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Corta!

Filmado num período que vai de 1987 até 1992, “Coffe and Cigarettes” é um pequeno aperitivo que Jim Jarmusch oferece aos seus fãs, enquanto se aguarda o verdadeiro sucessor do magistral “Ghost Dog – Método do Samurai”. Sucessor esse que só deverá chegar lá para finais do ano que vem e que sabendo nós que contará com a presença de Bill Murray, esse guru dos anos 80 recuperado em anos recentes pelas mãos de Wes Anderson e Sofia Coppola, só tornará os próximos meses num autêntico calvário de espera sem fim.

Para quem se lembre de “Night On Earth – Uma Noite Na Terra”, também de Jarmusch, pode dizer-se que este filme é uma variação onde os táxis são substituídos por cafés e cigarros. Não será talvez totalmente à toa que Roberto Begnini abra este último quando foi ele o mais marcante dos taxistas no já longínquo ano de 1991. É praticamente impossível não pensar de imediato em abóboras, ovelhas e padres mortos em escuras ruas de Roma. Para além de Begnini, são muitos os amigos de Jarmusch que aqui decidiram descomprimir e fazer uma pausa entre rodagens ou outros trabalhos, já que nem só de actores é feito este filme. As ligações deste realizador americano à música sempre foram bem visíveis e metade, ou quase, das personagens neste filme são interpretadas por músicos. Ter amigos importantes dá muito jeito. Se não fosse pela amizade este filme teria, só em ordenados para actores, um orçamento demasiado elevado para os bolsos de Jarmusch.

Entre conversas sobre vícios, virtudes, ou nada em especial, lá vemos desfilar perante nós Iggy Pop, Tom Waits, Steve Buscemi, Cate Blanchett em dose dupla, Jack e Meg White dos White Stripes, Steve Coogan, Alfred Molina e muitos, muitos mais. Uma verdadeira constelação de estrelas das franjas de um mainstream mais alternativo. Uma delícia. O pequeno episódio entre Iggy Pop e Tom Waits é de antologia, mas o melhor mesmo está guardado quase para o fim, com o brilhante Steve Coogan em conversa com Alfredo Molina. Para a história ficará o diálogo que marca a passagem para uma nova era do cinema. Um tempo onde um novo Spike domina. Adeus Lee! Olá Jonze! Se assim parecer confuso, não percam tão brilhante momento. Surpresa em “24 Hour Party People”, aqui Coogan, em poucos minutos, mostra o quanto ele pode dar. Estejam atentos. Estejam muito atentos!

Num preto e branco, ou melhor, em vários preto e branco distintos, Jarmusch une aqui onze pequenas histórias. Se nem todas ao mesmo nível, no conjunto é um filme agradável, bem disposto e que apetece ver de novo. Filmado com poucos meios, muitas vezes em curtos espaços de tempo, “Coffe and Cigarettes” é um daqueles objectos marginais que, em situações normais, não teria estreia em circuito comercial, resumindo-se a exibições nos circuitos de festivais. Não desperdicem a sorte de ter um filme como este em cartaz, deixando que passe sem ser visto.

Por: Hugo Sousa

cinecorta@hotmail.com

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