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Viagem adiada…

No passado mês de Maio completaram-se 117 anos após a inauguração do troço ferroviário entre a Guarda e Covilhã, integrado na linha da Beira Baixa.

Nesse longínquo ano de 1893, e como referia a imprensa local, “não houve grande aparato oficial, assistindo apenas o sr. Ministro das obras públicas, engenheiros e outros funcionários da companhia real dos caminhos-de-ferro e da fiscalização do governo, e poucos empregados mais”.

Seguindo o relato feito, a propósito, no Districto da Guarda, “o comboio que inaugurou a linha partiu da Guarda perto da 1 hora da tarde e seguiram nele a maior parte das pessoas que tinham ido à estação esperar o nobre ministro, e muitos estudantes, a quem s. exª mandou dar lugar no comboio, chegando a chamar paara junto de si alguns estudantes que já não tiveram lugar nos outros carros”…

Independentemente do ardor festivo, e da modéstia da cerimónia inaugural, a abertura deste troço marcou novas expectativas.

O mesmo jornal, na edição seguinte, sublinhava que a disponibilização deste novo eixo “vem facilitar muito as relações do norte do país com a Covilhã, porque sendo aquele um importante consumidor da indústria covilhanense, será o seu transporte feito pela linha da Beira Alta, que lucra portanto com isso”. Nesta perspectiva o papel da Guarda, como centro de ligação das duas vias ficava, como é óbvio, realçado.

É certo que, decorridos estes 117 anos, muita coisa mudou e as exigências são, naturalmente outras. Contudo esta ligação, executados que sejam os indispensáveis melhoramentos (a morosidade continua a tolher o desenvolvimento e a acalentar sonhos de TGV…) e disponibilizadas modernas composições, pode ter um papel muito importante na génese de uma área urbana que funcione como pólo de desenvolvimento da região, interior, em que se insere, sem polémicas estéreis em torno de centralizações institucionais…mais ou menos saudáveis.

O facto de estarem traçados novos rumos rodoviários não impede que a alternativa ferroviária, em matéria de transporte de pessoas e mercadorias seja igualmente considerada, pois há que projectar em função de uma dimensão ampla, que não definhe em visões estreitas ou bairrismos doentios, tantas vezes ciosamente alimentados por alguns.

Quando tanto se tem falado na necessidade de equacionarmos e rentabilizarmos os recursos humanos, técnicos e financeiros existentes no interior, bem como na sua equilibrada e eficaz complementaridade, importa agir, com rigoroso sentido do interesse das gentes desta região, gizar novos caminhos para o futuro.

É fundamental que esta questão, como outras, não sirva de bandeira em períodos eleitorais ou pretexto para discursos formais, com muitas figuras de estilo pelo meio, sustentados por efemérides mais ou menos significativas.

Passado mais de um século da efeméride a que aludimos, é lamentável que referido troço continue como está… em viagem adiada.

Luis Marques

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