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Venceu o “Basta”

As autárquicas já passaram mas não queria deixar de aproveitar o início de uma participação mais regular n’O INTERIOR para fazer uma breve análise ao sucedido nas eleições de dia 29. Acredito que o tempo entretanto contado, desde as eleições, permite observar com maior nitidez aquilo que resultou na histórica vitória do PSD, coligado com o CDS.

A vitória da coligação do Governo na Guarda comprova declaradamente que a transposição do nacional para o local é mormente diminuta. Principalmente em meios rurais. A vitória de Álvaro Amaro denota uma tendência muito própria destas eleições, desmultiplicada pelos mais variadíssimos concelhos do país. Os candidatos impostos pelas direções distritais, à revelia do interesse e vontade dos cidadãos, foram penalizados pelo saber popular.

A derrota do PS não é a derrota de José Igreja, mas a derrota de um certo tipo de fazer política. É a derrota do presidente da distrital local socialista, José Albano Marques, que, ao fazer vista grossa à vontade popular, preferiu um candidato que obedecesse ao critério essencial da política de quintal. A decisão do Tribunal Constitucional impedir a candidatura independente de Virgílio Bento permitiu um resultado menos mau para os socialistas. Os eleitores disseram ao PS, como noutras localidades o fizeram ao PSD ou ao PSD-CDS, que a sua vontade conta e que estão fartos de ter de votar em pessoas por quem não se sentem representados (legislativas, europeias).

Ao invés, a distrital do PSD teve a capacidade de fazer uma escolha capaz de unir em vez de desagregar. Foi esse o principal mérito da escolha de Amaro. Mantenho as críticas contra a aldrabice que consistiu a lei da limitação de mandatos, que, afinal, o não foi. Fui contra todo o tipo de candidaturas de “dinossauros”. Mas se uma lei feita para ludibriar deu no que deu, a partir daí as análises devem ser feitas ultrapassando esta premissa.

Paradoxalmente, Júlio Sarmento, presidente da distrital do PSD, fez bem na Guarda aquilo que fez mal no concelho de proveniência, onde ainda detém poder de autoridade no partido.

Em Trancoso, Sarmento optou por formar, para sua sucedânea, uma lista constituída por pessoas da “Maçonaria dos pequeninos”, negligenciando completamente os ecos vindos das populações do concelho. O PSD foi derrotado inapelavelmente e o PS conseguiu uma vitória histórica, apesar do seu candidato, Amílcar Salvador, não corresponder às expectativas e vontade dos locais.

Uma palavra define estes resultados. Não passa por derrota nem vitória, mas por um “Basta” às comanditas caciqueiras que julgam poder continuar com tudo na mesma. As pessoas querem sentir que contam. Precisam disso. São pessoas descrentes, que vivem sós e sem perspetivas. Resta-lhes sentir que podem contar com alguém. Candidatos forjados na promiscuidade de reuniões distritais inócuas não representam ninguém, só a eles mesmos e aos seus caprichos. Nestas eleições apontou-se o dedo e ouviu-se Basta. Não houve votos favoráveis. Houve votos contra.

Por: David Santiago

Comentários dos nossos leitores
barreiros barreiros.a@orange.fr
Comentário:
que belo comentario.grande verdade
 

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