P – Quais são os seus projetos para a Comissão Vitivinícola da Região da Beira Interior?
R – Quando se avança com alguma coisa, temos sempre uma ideia do que pretendemos. Mas temos de ter em conta os tempos de contenção em que vivemos e, por isso, não é possível pensar em projetos mirabolantes. Já fizemos a primeira reunião da direção e chegámos à conclusão que não podemos avançar com ideias muito gastadoras. Queremos apostar na rota dos vinhos e também pretendemos encontrar novas instalações, porque o espaço que temos tem pouca dimensão. Mas manter-se-á na Guarda, porque é uma cidade com uma posição estratégica. Além disso, fazer a divulgação dos vinhos, da região e do país é outro dos objetivos prioritários. Queremos promover concursos, trazer jornalistas e participar em feiras. A principal ação de uma CVR é o controlo técnico dos vinhos e, portanto, teremos ainda de continuar a assegurar que os produtos que entram no mercado correspondam aos parâmetros de qualidade pré-estabelecidos. Nesta vertente, não queremos negligenciar nada.
P – Como vai funcionar a Comissão em termos de organização, mantém-se na mesma linha?
R – Vai continuar a funcionar da mesma maneira. Terá a parte diretiva, a parte do Conselho Geral e administrativa. Pretendo que o Conselho Geral passe a ser mais interventivo na tomada de decisões. Penso que dez pessoas pensam sempre mais do que três. Gosto de ouvir as pessoas independentemente do que decida a seguir.
P – A atual direção é maioritariamente ocupada por produtores particulares, estando as cooperativas em menor número. Que leitura faz disto?
R – Foi um consenso global que houve entre todos os produtores particulares e as cooperativas. Eu já fui “apanhado” no meio disso, porque só após esse consenso é que fui convidado para liderar a direção. Neste momento, contamos com cinco cooperativas e 25 produtores particulares, por isso, faz sentido que haja mais privados na direção.
P – Mas esse facto é sinónimo de mudanças na produção vitivinícola local?
R – A estratégia da produção vinícola desta região sofreu um volte-face nos últimos tempos. Há 10 anos havia dois ou três produtores na Beira Interior. Agora há cada vez mais e isso veio modificar o panorama. Antes faziam apenas vinhos de mesa e vinhos regionais, havia poucos DOC (Denominação de Origem Controlada). E, ao haver uma evolução na produção, a qualidade também aumentou e com ela chegaram novas exigências. Aquilo que hoje um consumidor expecta de um vinho em termos de qualidade é muito diferente daquilo que esperava há anos atrás. Há muito que bebo vinho e eu próprio noto que as minhas exigências estão diferentes. O conceito que há de qualidade atualmente é completamente diferente daquele que existia. Além disso, há uma competitividade cada vez mais forte entre os vários produtores e isto é transversal a todas as regiões do país.
P – No sua opinião, quais são as principais dificuldades que a produção vitivinícola local enfrenta neste momento?
R – A nossa região padece de um mal: não é conhecida. E daí eu dizer que um dos meus principais polos de atuação vai ser a divulgação. Queremos promover concursos, trazer jornalistas e participar em feiras. Quando se diz Beira Interior, mesmo em Portugal, há muita gente que não faz ideia onde é. Esta zona é um “bunker” rodeado de montanhas, que veio a ser “desencravado” pelas auto-estradas. Mas, infelizmente, tudo aponta para que as portagens nos voltem a “fechar portas”. Depois, há falta de transportes públicos e alternativas. É um custo da interioridade, ninguém quer saber deste problema e nós produtores e empresários estamos cá e sofremos com ele todos os dias.
R – Além de presidente da CVR, é também produtor de vinhos e proprietário da Quinta dos Termos. Por que decidiu apostar nesta região?
R – Eu podia estar a fazer vinhos noutra região qualquer, mas acredito na qualidade dos vinhos da Beira Interior. Não é por acaso que há um estudo muito recente que demonstra que estes vinhos são os mais benéficos para a saúde. De facto, há uma qualidade intrínseca ao clima e aos solos que não existe noutras regiões. As amplitudes térmicas que aqui temos são excecionais. Temos temperaturas de 35 graus durante o dia e de 10 graus à noite, o que provoca uma maturação lenta das uvas, dando características únicas ao nosso vinho.