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«Vamos dar voz à história local, puxando pela figura lendária de Cabral»

Entrevista ao Presidente da Câmara de Belmonte, António Dias Rocha

P- Não se chama Feira Medieval, como outrora. É agora “Belmonte Medieval” – o que mudou?

R- É sobretudo a mudança do conceito, deixando de ser uma feira generalista – como de repente passou a haver muitas –, e o reforçar da componente local, ligada a Belmonte e à sua história, onde se destaca a família dos Cabrais.

 

P- Terá uma história ligada ao Pedro Álvares Cabral, em que consiste?

R- Vamos dar voz à história local, puxando pela figura lendária de Cabral. Haverá encenações, com atores e gente local, para recriar a história de vida do descobridor. Para este ano, vamos tomar a partida de Cabral para a Corte, onde vai estudar. Seu pai, Fernão Cabral, decreta três dias de festejos… é este o cerne de todo o evento!

P- Mas terá um casamento judaico, o que tem isso a ver com os Cabrais?

R- Isso acontece porque uma das características dos Cabrais era a tolerância religiosa. Os judeus não foram aqui perseguidos, muitos deles viajaram mesmo nas caravelas que chegaram a terras de Vera Cruz com Pedro Álvares… Queremos evocar Pedro Cabral, ainda jovem, que vive num Belmonte multirreligioso, o que marcará a sua face humanista…

 

P- A área da feira é a mesma ou aumentou?

R- O ano passado aumentámos bastante a área da feira. Vamos manter as coisas iguais. Mesmo assim, temos um ligeiro aumento do número de expositores – está mais diversificada. Haverá também mais animação para podermos cobrir toda a zona, que é bastante ampla…

 

P- As feiras apresentam um regulamento cada vez mais apertado em termos de recriação medieval, quais as exigências que são feitas aos comerciantes presentes?

R- A cada ano vamos aumentando a exigência no que concerne à decoração das tendas e às vestimentas usadas. Queremos abolir o plástico de uma vez por todas neste evento e implementar o uso da moeda local – o Centil –, uma moeda da própria feira para a compra dos produtos.

 

P- Que animação vai ter esta feira? Quais as inovações?

R- Vamos ter “videomaping” sobre a história dos Cabrais e Pedro Alvares Cabral, no domingo, dia 14. São projeções multimédia na muralha do castelo e que estou seguro será o ponto alto da feira por ser algo inédito. Teremos espetáculos muito fortes e depois toda uma série de pequenas encenações e músicos animando as ruas durante os três dias do evento….  Será uma programação muito variada!

 

P- Qual a importância de um evento desta grandeza para Belmonte?

R- Já vai na sua XIIIª edição, o que prova que já foi um evento que se afirmou, cativou gente e marca os calendários dos eventos de verão em toda a nossa região. Mas chegam pessoas de toda a parte e muitos estrangeiros… Nos últimos tempos temos conseguido uma maior integração e envolvência da população local. Não só porque dão rosto ao cartaz, mas porque são parte integrante do espírito da feira, pois as pessoas decoram as suas janelas, vestem roupas medievais mesmo que não tenham negócios… só para darem corpo a esta grande aventura!! Tem também uma enorme importância na divulgação do nome de Belmonte. Nesta data recebemos muita gente. Traz mais turistas, um aumento de dormidas e de pessoas em restaurantes. Mas sobretudo divulga a terra, o que leva a mais turistas ao longo do ano, fora das datas da feira…

 

P- Qual o papel da Carta de Pero Vaz Caminha na programação da Feira?

R- A Carta de Pero Vaz de Caminha é considerada a certidão de nascimento do Brasil, pois é o documento onde Pero Vaz de Caminha, o escrivão de Cabral, registou as suas impressões sobre a terra que posteriormente viria a ser chamada de Brasil. É um documento fabuloso. Em 2005, a UNESCO classificou esta Carta no Programa Memória do Mundo. Vai estar visitável todos os dias. Esperamos um aumento considerável de visitantes para verem este documento ímpar, pois é a primeira vez que está fora da Torre do Tombo, é uma oportunidade única para se ver de perto…

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