Repete-se na Associação Académica da UBI aquilo que já tinha acontecido no Instituto Politécnico da Guarda: apenas uma lista se candidata aos órgãos directivos da organização estudantil. O fenómeno não é exclusivo da nossa região, nem se verifica apenas nas associações de estudantes. Uma observação atenta da realidade nacional permite verificar que são cada vez mais raros os jovens interessados em assumir os destinos de colectividades ligadas às diversas áreas de intervenção social.
Longe vão os tempos em que várias listas disputavam as eleições para as associações de estudantes e em que as campanhas eleitorais estavam entregues às organizações de juventude dos partidos. Progressivamente, as novas gerações têm vindo a afastar-se do associativismo e da política, pelo que a renovação da classe política estará cada vez mais entregue às máquinas partidárias e, pior do que isso, à facção que dominar o partido nesse momento.
O fraco dinamismo do movimento associativo é o resultado de uma acentuada degradação da sua imagem junto da comunidade. Para muita gente, entrar na associação de estudantes é apenas uma forma de conseguir o Estatuto do Dirigente Associativo, o que permite faltar às aulas e ter épocas especiais. Mas a realidade não é essa. A agenda de um dirigente associativo é exigente e os compromissos são muitos: reuniões dos vários órgãos da escola, encontros com governantes e associações congéneres e contactos com patrocinadores e promotores de eventos são actividades quase diárias. A tudo isto é preciso juntar ainda os assuntos correntes, como o acompanhamento de alunos ou a organização de eventos culturais e desportivos, por exemplo. É muita coisa para uma pequena equipa que raramente ultrapassa as dez pessoas.
Este ritmo obriga os alunos envolvidos nas associações a faltar às aulas, quase sempre contra a sua própria vontade. Porém, o querer fazer mais pela academia acaba por se impor ao interesse pessoal e as faltas sucedem-se. O normal seria que as escolas reconhecessem este esforço mas, infelizmente, não é isso que acontece. Embora o Estatuto do Dirigente Associativo defenda os estudantes, os intervenientes no sistema de ensino desvalorizam este tipo de intervenção social e, mais tarde ou mais cedo, os alunos acabam por ceder às pressões familiares e abandonam o associativismo. O resultado está à vista: poucos candidatos aos lugares, redução do número de eventos culturais e desportivos, intervenção cívica dos jovens quase inexistente.
Ainda recentemente, um antigo dirigente estudantil, agora responsável pelos recursos humanos de uma grande empresa, confessava a dificuldade da sua empresa em encontrar profissionais com determinadas características. “Os licenciados que participaram em associações de estudantes topam-se à légua. São autónomos e estão muito atentos à realidade que os rodeia. Infelizmente, cada vez tenho mais dificuldade em encontrar antigos dirigentes estudantis”, dizia com alguma amargura.
A situação é má e tende a piorar. Os jovens viraram costas ao associativismo estudantil e enquanto o sistema de ensino continuar a penalizar aqueles que abdicam do seu tempo livre em prol do bem comum, o ciclo não se inverterá. Desta forma, perde a sociedade, perdem as empresas e, parece-me, perdem as próprias instituições de ensino. Sem eventos culturais e desportivos – quase sempre organizados pelas associações de estudantes – as escolas tendem a transformam-se em meros supermercados de diplomas, simples pontos de passagem que não deixam saudades nem fixam jovens quadros na região.
Por: João Canavilhas