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Vaca do Jarmelo considerada de interesse municipal

Deliberação da Assembleia Municipal poderá ser «mais um passo» para se alcançar a ambicionada certificação da raça

Desde a última reunião da Assembleia Municipal (AM) da Guarda, realizada há duas semanas, que as raças autóctones do Jarmelo são consideradas de interesse municipal. A proposta apresentada pelo deputado Agostinho da Silva foi aprovada por unanimidade, numa decisão que os defensores da vaca jarmelista acreditam poder ser mais uma forma de pressão para conseguirem alcançar a ambicionada certificação da raça. Contudo, é também reclamado um maior apoio por parte da autarquia da Guarda.

A deliberação da AM vai agora ser dada a conhecer «às entidades competentes», sublinhou na altura Joaquim Valente, presidente da Câmara da Guarda. «Satisfeito» com este reconhecimento ficou Agostinho da Silva, um dos mais acérrimos defensores da jarmelista e actual presidente da Junta de S. Pedro do Jarmelo, mas frisa que «agora resta saber o que vem a seguir». É que o interesse municipal «só no papel não chega e já estamos habituados a que, depois de muito exprimidas, saia destas Assembleias Municipais pouco “sumo”», constata. «Agora tem que haver uma aposta séria do município» que passa por haver, já na edição deste ano da Feira Concurso do Jarmelo, agendada para 4 de Junho, «um maior apoio económico», indica. Outra atitude que espera da autarquia é «fazer parte dos “lobbies”» em defesa da raça, a exemplo do que se passa noutros pontos do país. Ou também em «coisas tão simples», como, por exemplo, colocar alguns dos 60 animais que estão referenciados num estudo sobre a raça no espaço educativo da Quinta da Maúnça, de modo a que os mais pequenos possam contactar e ficar a conhecer os animais.

De resto, na sessão de 27 de Abril, o deputado municipal também pediu ao executivo camarário para assumir a Feira Concurso como uma «âncora/referência regional». Aliás, «quem sabe num rasgo de atrevimento, numa parceria com o Jarmelo, avance um projecto de um espaço onde as raças possam ser vistas perto do seu solar de origem, dando seguimento ao desafio do site Jarmelo.com de que os cibernautas possam adoptar um animal comunitariamente», revela. Mas a divulgação das jarmelistas não se fica por aqui. É que a Associação Desportiva e Cultural do Jarmelo promove este domingo, a partir das 9 horas, a “Yellow Cow Parade – Corrida das Vacas Loucas”, considerado o «passeio mais louco de toda a história desta raça autóctone em BTT». A organização desafia os participantes a vestirem uma “t-shirt” da jarmelista e a pedalarem ao encontro dos «únicos e resistentes criadores desta vaca em vias de extinção». A declaração de interesse municipal é vista como «mais um passo» para se conseguir a certificação da raça e que poderá ser mesmo «fundamental se se perceber que é importante apostar nisto», ressalva Agostinho da Silva.

Até porque, «com pouco dinheiro e muita ilusão, é possível fazer muita coisa», garante. Por outro lado, «era importante que não se matassem mais animais da raça amarela», daí que defenda a sensibilização dos produtores para a manutenção do número de exemplares e para deixarem inseminar os animais para que possa haver procriação. Apesar de ironizar que «a extinção é, porventura, a melhor solução para o problema», Agostinho da Silva garante que «cá estaremos para manter viva a chama da ilusão desta luta». Aliás, no seu entender, «se um grupo de maníacos, não tivesse agarrado a ideia de tentar lutar por ela, quem sabe se “nuestros hermanos” não estariam disponíveis para, num relance de audácia que os caracteriza, formar mais uma raça oriunda de Espanha (comprando os poucos animais que tínhamos) para nós a comermos como “ternera” certificada depois de a terem levado de um sítio onde era mal amada», reforça.

Ricardo Cordeiro

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