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Utentes devem 500 mil euros no Hospital Sousa Martins

Unidade Local de Saúde da Guarda quer reequacionar sistema de pagamento de taxas moderadoras

A dívida dos utentes no Hospital Sousa Martins, na Guarda, ascende aos 500 mil euros, revela o presidente do Conselho de Administração (CA) da Unidade Local de Saúde (ULS). O valor é contabilizado desde 2000 e diz respeito sobretudo a taxas moderadoras de exames e serviços.

Fernando Girão admite que a maior parte dos valores em falta está relacionada com a Urgência, embora não haja ainda estatísticas definidas. «A taxa moderadora da Urgência é a mais cara. As pessoas vêm aflitas, fragilizadas e nem sempre trazem o cartão de utente e, nessas circunstâncias, não as podemos fazer pagar na hora», adianta o responsável. Os doentes são, por isso, notificados por carta para pagarem a quantia devida. No entanto, são muitos os valores que continuam por liquidar. A carência e os orçamentos apertados de algumas famílias não parecem ser as razões que suscitam mais dívidas, até porque «há isenção de taxas para quem está no desemprego ou enfrenta uma situação de carência», refere Fernando Girão. De acordo com o responsável, é precisamente no sistema de pagamento que reside um dos constrangimentos. «Há dívidas de apenas dois euros e os utentes acabam por não vir de propósito ao hospital para liquidarem um valor tão baixo», exemplifica.

Nesse sentido, a «dispersão geográfica» das pessoas atendidas no Sousa Martins acaba por dificultar a cobrança. Além disso, a hipótese da transferência bancária também não goza de muito sucesso junto do doente. Por isso, a ULS pretende reequacionar o sistema de pagamento, revela o dirigente. «Estamos a procurar uma forma alternativa, com os bancos e correios, para que as pessoas possam pagar o que devem sem terem de se deslocar até aqui», esclarece.

Um sistema sujeito a demoras

A dívida oscila também devido a demoras no sistema e à falta de maior interligação entre serviços. Segundo o presidente da ULS, há casos em que «o doente paga a taxa moderadora da Urgência depois de ter alta», no entanto, pode ainda ser notificado por carta para pagar o valor correspondente a um meio complementar de diagnóstico se tiver realizado, por exemplo, um raio-X. «Quando a pessoa tivesse alta, devia ser possível aceder logo ao total da conta e não apenas à taxa moderadora», considera Fernando Girão. Para colmatar esta falha, o médico garante que o hospital está a trabalhar num novo sistema que possibilite aceder rapidamente à «fatura que o utente tem a pagar». Mas as demoras não se ficam por aqui. O valor da dívida está ainda dependente das situações em que o hospital tem de esperar pela decisão de um tribunal. Ou seja, sempre que os utentes são atendidos na sequência de agressões, «só depois do tribunal decidir quem é o culpado é que o hospital pode endereçar a dívida à pessoa certa», explica.

O mesmo se passa em caso de acidentes, já que é preciso apurar quem tem responsabilidades para a respetiva seguradora pagar depois a despesa. Na opinião de Fernando Girão, é preciso trabalhar numa «certa consciencialização» dos utentes, alertando-os para a possibilidade das dívidas comprometerem o trabalho da instituição, uma vez que há «tratamentos e medicamentos muito caros» para os quais terá que haver sempre dinheiro.

Catarina Pinto

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