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Utentes da APPACDM da Covilhã são “estrelas” em filme

Projeto de final de curso de alunos de Cinema na UBI está a gerar grande entusiasmo na instituição

Cerca de 15 utentes da delegação da Covilhã da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental são os protagonistas do projeto de fim de curso de quatro alunos de Cinema da Universidade da Beira Interior. “Síndrome de Cinema” será «um filme dentro de outro filme», em que as pessoas com deficiência mental serão as verdadeiras “vedetas”.

Os estudantes têm-se deslocado regularmente às instalações da APPACDM, onde têm conduzido alguns “workshops” em que apresentam o equipamento e ensinam como trabalhar com as luzes ou se fazem efeitos especiais, por exemplo. Depois, será com base nas diferentes reações e intervenções, bem como no filme em que os utentes serão os atores principais, que farão o seu projeto final. Inicialmente, o filme, que ainda não tem título, estava para ser projetado na Cinubiteca, mas «dada a dimensão que o projeto ganhou» existe a possibilidade da estreia, agendada para 1 de junho, ter lugar no Teatro Municipal da Covilhã. O objetivo é fazer uma «grande gala e uma festa para que eles possam levar os familiares e amigos», revela Henrique Cannavial. «Esse vai ser o filme deles, em que vão homenagear vários filmes porque um queria o “007”, outro o “Titanic”, outro a “Guerra das Estrelas” e então vamos fazer uma cena de cada filme, com fatos a condizer», revela o realizador.

Todo este processo será orientado e filmado pelos alunos, resultando num filme que será avaliado como projeto de final de curso, mas que «representa muito mais que isso». De resto, o que era inicialmente para ser uma curta-metragem de 30 minutos teve de ser alargada porque «teremos que filmar várias histórias». O estudante refere que, apesar de serem apenas quatro alunos a ser avaliados, o projeto «foi aumentando» e neste momento já envolve cerca de 15 pessoas de diferentes áreas, da Sociologia à Fotografia. Henrique Cannavial adianta que, a certa altura, “Síndrome de Cinema” «deixou de ser um projeto final de curso» e que agora os finalistas estão «mais preocupados se eles estão a gostar e se o seu filme vai sair bem do que propriamente na nossa nota». O realizador assegura que trabalhar com quem tem deficiência mental «é completamente diferente do habitual, mas pela positiva», já que estes atores «não têm ciúmes, invejas ou preconceitos» e «entregam-se de alma e coração ao que estão a fazer».

Entre os “artistas”, o entusiasmo é a nota dominante após uma sessão em que aprenderam a trabalhar com a luz e os seus efeitos. Uma das mais participativas é a Maria de Jesus Fonseca, que gostava de fazer um filme sobre aviões. Quanto a Diogo Marques já aprendeu «a mexer nas câmaras e a trabalhar com as luzes», enquanto Pedro Rolo está a gostar «muito de tudo» e, entre os filmes que mais aprecia, destaca-se “Mister Bean”. Por sua vez, João Tiago Silva gostava de fazer um filme sobre o “007” e admite que gostou mais da sessão sobre os «efeitos especiais». A ideia também foi muito bem acolhida pelos responsáveis da APPACDM e vem de encontro a uma «necessidade» sentida pela instituição «de tentar dinamizar alguma coisa no âmbito da expressão dramática», realça Carina Correia. A psicóloga refere que os «clientes denotam um grande entusiasmo e motivação porque é uma atividade diferente». Por sua vez, João Teixeira, aluno de Sociologia, foi desafiado a integrar o projeto e a experiência está a ser «gratificante» e pode constituir uma «mais-valia» enquanto estudante de Sociologia, pois espera «trabalhar nesta área».

Ricardo Cordeiro Atores têm aprendido a trabalhar com o equipamento ou como se fazem efeitos especiais

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