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Urbanismo Medieval (segunda parte)

Nos Cantos do Património

Com a tentativa de criar diversos núcleos urbanos ao longo de uma linha divisória entre o reino leonês e o português, de ambos os lados do rio Côa, verificou-se a necessidade de uma organização territorial, com a atribuição de privilégios a concelhos autónomos.

Uma das principais funções desta rede de povoamento seria a defesa das calçadas, permitindo o controle das deslocações militares.

Com a atribuição de cartas de foral e a definição de legislação específica, definem-se e organizam-se os espaços intra-muralhas, com dois núcleos, a alcáçova e almedina. A primeira corresponde ao local mais inexpugnável do sistema defensivo, com uma torre e um pequeno postigo, permitindo a fuga dos habitantes deste espaço para o exterior. São conhecidos como a Porta da Traição, como o caso de Castelo Mendo e da Guarda.

Intervenções arqueológicas em alcáçovas têm permitido confirmar o carácter militar destes espaços ao longo dos tempos. Veja-se o caso da intervenção arqueológica na alcáçova da Guarda, coordenada pela Dr.ª Lídia Fernandes.

A almedina era a área inferior do sistema defensivo, a área urbana rodeada por uma linha de muralhas, com diversas portas de acesso.

No interior da almedina as igrejas correspondem a marcos de organização espacial, que certamente influíram na organização interna dos núcleos. Certamente esta organização geográfica dos imóveis terá também levado a uma organização social. Um dos casos que melhor tem sido estudado diz respeito às judiarias, cujo estudo tem permitido identificar características comuns.

Fora das muralhas desenvolveram-se os arrabaldes, sendo as portas da muralha e imóveis, sobretudo os de carácter religioso que serviram de pólos agregadores do urbanismo medieval. É o caso dos conventos e das igrejas.

O carácter urbano destes núcleos é também demonstrado pela realização de feiras, regulamentadas por carta régia, remontando ao século XIII. Eram locais de troca e abastecimento dos núcleos urbanos, permitindo o acesso a produtos diversos: sal, ferro, trigo, cevada, centeio, gado, entre outros.

A grande maioria destes núcleos urbanos, actualmente cidades e vilas, remontam à Idade Média, tendo inicio como núcleos de pequena dimensão, com uma função relevante na defesa das fronteiras do reino.

Por: Vítor Pereira

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