Esta iniciativa do governo e dos bancos e dos fabricantes e vendedores de computadores é louvável. Olha, não está a falar mal e a deitar abaixo… há coisa… Exactamente. De vez em quando, elogiar uma iniciativa é um exercício útil, até para evitar tiques estilísticos. Como aquelas situações de actores cómicos que quando fazem um papel dramático ou de mau da fita não convencem ninguém e a malta passa o filme a rir-se, mesmo quando a história não tem piada nenhuma.
Mas então esta possibilidade de andar pelos campus universitários com portáteis novinhos em folha, que se podem ligar na cantina ou no bar (ou mesmo na sala de aula) para sacar umas imagens porno da net enquanto o profe disserta apaixonadamente sobre a optimização de infra-estruturas institucionais e potenciação de grupos ad-hoc de interface entre a administração central e local, com especial incidência na avaliação dos fenómenos e das necessidades inerentes à dinâmica de grupo, ou outro assunto de igual relevância académica e de premente importância para a região, o país e o mundo.
Claro que para os bancos aderentes também é porreira esta possibilidade de começar a treinar os estudantes a ficarem endividados logo desde novinhos. De pequenino se torce o pepino, e assim, quando forem para o mundo já não estranham tanto com a prestação do carro e da casa. Para os fabricantes e vendedores de computadores, óptimo: mercadoria a sair do armazém, facturação, riqueza a ser criada.
Mas como professor, gostaria de realçar a possibilidade, por exemplo, de entrar em fórums e discussões com a turma, continuando um tema que teve de ser interrompido por causa do horário, a possibilidade de fazer perguntas (é verdade, um professor também faz perguntas sem ser nos testes), a possibilidade de propor e discutir soluções fora do paralelepípedo que é o horário e a sala de aula, a possibilidade de colocar na rede e tornar disponíveis os textos daquelas sebentas tão velhas, tão velhas, que já se conseguem extrair antibióticos das suas nódoas, a possibilidade de actualizar conteúdos, até pela facilidade que há de aceder a outras universidades e fazer comparações pouco abonatórias, enfim, um mar de possibilidades que esta ferramenta vai abrir à academia.
Vamos ver qual a resposta que a universidade vai dar a esta inovação. Se a trata como mais uma modernice que passa com a primeira chuvada de outono ou se vai tentar adaptar-se aos tempos e tornar-se tão ágil como o mundo que a rodeia.
Já a terminar este texto, soube doutra notícia óptima: O Minho vai receber o maior empreendimento eólico do país. Óptimo! Energia sem ter de pagar a conta aos árabes. Para os ecologistas e ambientalistas também é uma variação agradável: deixam de protestar só por causa do petróleo e do efeito de estufa, porque também já podem reclamar por causa da paisagem natural ficar toda desfigurada. Morre o bucolismo pastoril, assassinado por umas ventoinhas gigantes que se metem no caminho dumas aves migratórias tão raras e tão estúpidas que não sabem desviar-se das pás. E que morrem e tudo. Uma boa notícia, portanto. Menos para as tais aves.
Mas também não se pode contentar toda a gente.
Por: Jorge Bacelar