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Universidade de Viseu «ofende» outras instituições de ensino superior

Presidente do IPG fala de «despesismo público inaceitável»

As declarações de Fernando Ruas, presidente da Câmara de Viseu, anunciando a possibilidade da criação de uma universidade pública nesta cidade até ao final do mandato, em 2006, têm sido alvo de protestos por parte da Associação dos Institutos Politécnicos do Centro – Politécnica. Segundo esta associação, que para além de Viseu integra também os institutos de Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria, Portalegre e Tomar, esta eventualidade é um «acto ostensivamente ofensivo para todas as instituições de ensino superior a que cortaram vagas e orçamento» e não existem «razões racionais que justifiquem a sua criação».

Com a execução desta medida, Viseu passaria a ter, para além do Instituto Politécnico (público) e da Universidade Católica (privada), mais uma universidade pública, o que se traduz, segundo a “Politécnica”, «numa repetição de estruturas para o mesmo fim e numa consequente duplicação de custos». Contactado por “O Interior”, Jorge Mendes, presidente do Instituto Politécnico da Guarda (IPG), reagiu às declarações do autarca viseense dizendo que está «totalmente solidário» com a “Politécnica”, pois num «momento de crise económica e financeira grave, onde claramente se regista um desinvestimento no ensino superior, não faz qualquer sentido criar mais uma universidade em Viseu, quando esta cidade já tem uma universidade privada e um instituto politécnico». Para o professor, esse cenário configura «claramente» um «despesismo público inaceitável», considerando ainda um «contra-senso» a abertura de mais uma universidade em Portugal.

A recusa do Governo em autorizar a criação de novas licenciaturas – proposta feita também pelo IPG – com base no argumento de existirem «cursos em excesso no país» não é «coerente com a proposta da criação da universidade de Viseu», acrescenta. Por outro lado, também a sugestão de alteração da designação de instituto politécnico para universidade politécnica também foi considerada «irrelevante» pelo presidente do IPG. Para Jorge Mendes, é simplesmente uma «questão de nome, que não acrescenta nada ao rigor ou à qualidade prestada, quer por politécnicos ou por universidades», diz, sublinhando que esta eventualidade acontece numa altura em que o Governo «tem pedido a todas as instituições de ensino superior que se articulem entre si, de forma a diminuir os custos com a educação. Logo, uma proposta deste género é inaceitável». Estranha, de resto, «o silêncio» da ministra da Ciência e Ensino Superior, que «ainda não veio confirmar ou desmentir» esta possibilidade e apela ao «bom senso» do Governo para que pondere aquela que considera ser «uma discussão estéril».

Valter Lemos, presidente da Associação dos Institutos Politécnicos do Centro e do Politécnico de Castelo Branco, já considerou esta proposta como uma «reedição de um episódio que teve lugar no anterior Governo» aquando da criação do Instituto Universitário de Viseu, salientando que seria «bizarro» criar uma universidade «a pedido de um presidente de câmara». Entretanto, afirma que a “Politécnica” não se opõe ao alargamento do ensino superior «nesta ou em qualquer outra cidade», desde que seja «provada a necessidade da abertura de novos cursos ou escolas», defende, embora considere «a crise económica que o país atravessa» como razão suficiente para que a proposta seja recusada. A “Politécnica” promoveu segunda-feira uma conferência de imprensa no Instituto Politécnico de Castelo Branco para a esclarecer que uma decisão favorável do Governo será em «evidente e descarado prejuízo do interesse público». No entanto, a sessão esteve prevista para Viseu, onde acabou por não se realizar por ter sido interpretada como «um confronto com Viseu e os responsáveis políticos locais», explicou Valter Lemos, para quem a tomada de posição da “Politécnica” só tem a ver com a «análise geral da política e rede de ensino superior, sendo aplicável a qualquer outra cidade do país». De resto, insistiu no facto de considerar «um desperdício de recursos públicos a existência simultânea de uma universidade e um politécnico públicos na mesma cidade».

Marisa Morais

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