A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Unhais da Serra está a encetar esforços para se constituir como corporação de bombeiros. Esta é a pretensão do presidente da direcção da associação, Bernardo Domingos, que diz estar «cansado» de ver a associação ser marginalizada há 23 anos pelo Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC) e, até, pelos Bombeiros da Covilhã.
Há mais de duas décadas que os elementos desta associação exercem a actividade como Bombeiros Voluntários, apesar de, até hoje, não serem reconhecidos pelo SNBPC. Por isso, não têm os mesmos direitos nem os apoios governamentais que as outras corporações possuem. Ainda assim, os 30 elementos de Unhais continuam a dar “o corpo ao manifesto” por uma causa em que acreditam: fazer o bem pela comunidade da freguesia e das localidades limítrofes, como combater fogos florestais.
O desinteresse também parece vir da parte dos Bombeiros Covilhanenses, visto que, ao longo de 23 anos, nada foi feito para resolver esta situação. Ainda em Dezembro passado, a propósito do aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros de Unhais, Emídio Martins deixou bem claro não haver interesse em apoiar esta estrutura como uma secção dos BVC. «Não é rentável e não há condições para o fazer», disse o presidente da direcção da AHBVC, dado haver já uma secção no Paúl. «Não podemos ter bombeiros em cada esquina», referiu na altura, quando questionado por “O Interior” sobre o caso. Na altura, este responsável foi ainda mais longe, ao dizer que desconhecia os bombeiros de Unhais. «Os únicos bombeiros que reconheço no concelho são os Voluntários da Covilhã». E acrescentou: «Eles não são nada. Auto-intitulam-se como bombeiros, mas para o serem é preciso ter formação», disse na altura, afirmando-se totalmente contra a existência de «bombeiros particulares» para Unhais da Serra. «Nós servimos o concelho e se o SNBPC achar por bem haver mais uma corporação, então eles que se responsabilizem para abrangerem também o Paúl, as Cortes ou a Barroca. Mas acho que não têm capacidade para isso», referiu.
Talvez tenha sido por isso que os Bombeiros de Unhais tenham decidido avançar para a constituição de uma «corporação própria». «Os BVC falharam-nos. Constituirmo-nos como uma secção deles, está completamente posto de parte», disse Bernardo Domingos. Posição defendida, de resto, por alguns dos bombeiros daquela associação.
No cerne destas relações extremas deverão estar algumas quezílias entre as duas corporações, segundo apurou “O Interior”, apesar de ninguém apontar as verdadeiras causas. Em Unhais, há populares que acreditam que a culpa é dos bombeiros da Covilhã, por não quererem as verbas da Câmara repartidas por mais uma corporação de bombeiros.
Polémicas à parte, a direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros de Unhais da Serra está já a trabalhar para se constituírem como corporação autónoma. O primeiro passo foi dado há cerca de dois meses pela direcção, numa reunião com a governadora civil e o comandante distrital do CDOS. Agora, a direcção vai levar o assunto até à Junta de Freguesia, população e autarcas de outras localidades limítrofes, de forma a obter a opinião destes sobre o assunto. Se a maioria apelar por uma corporação, Bernardo Domingos irá mesmo “bater à porta” da Câmara da Covilhã para que o desejo se torne realidade.
Unhais com quatro viaturas de combate a fogos
Apesar de não terem subsídios e contarem apenas com a ajuda da população e de beneméritos, como Paulo de Oliveira e António Lopes, o mais caricato é que conseguem ter mais viaturas de combates a fogos florestais que a corporação covilhanense. Ao todo, possuem quatro carros, enquanto que os Bombeiros da Covilhã possuem duas viaturas. Sediados num edifício cedido pela Penteadora, possuem também uma cisterna com capacidade para cerca de 40 mil litros de água, oferecida no último aniversário por um empresário do norte que, de resto, terá já manifestado apoio para a construção de uma sede assim que a associação conseguir encontrar um terreno com dois mil metros quadrados.
Já o seguro de saúde dos 30 elementos – entre os quais seis são mulheres – é suportado na íntegra pela Associação Humanitária, que conta ainda com o apoio de outras corporações de Bombeiros, nomeadamente de Vale de Cambra e de Vila Nova de Famalicão.
Liliana Correia