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Unanimidade contra fecho da maternidade

Dirigentes partidários dizem-se revoltados e consideram decisão do Conselho de Administração «absolutamente inaceitável»

O anúncio do fecho da maternidade do Hospital Sousa Martins motivou reacções em catadupa na cidade. Os principais partidos convergem ao considerarem «absolutamente inaceitável» a decisão do Conselho de Administração, mas divergem quanto às causas e aos responsáveis. A concelhia do PS e o ressuscitado Bloco de Esquerda exigiram a demissão do CA e do director clínico, o CDS-PP considera o caso um sinal de «desprezo» pelo interior e o PCP responsabiliza as políticas dos sucessivos Governos para o que está a acontecer na Guarda, enquanto o PSD chama a atenção para o facto desta ser uma situação temporária. Já Maria do Carmo espera que esta opção não sirva de argumento para o encerramento definitivo da valência.

Os socialistas exigem a manutenção da maternidade e explicações do Governo sobre a situação vivida no Sousa Martins, manifestando incredulidade pelo facto do CA se antecipar «à possibilidade do Governo de encerrar várias maternidades na Região Centro e interior do país, ao invés de protestar e construir alternativas». «Afinal, para que se gastaram milhares de euros na construção de um bloco operatório de apoio à maternidade», questionam em comunicado, receando que esta medida possa ser a «antecipação do encerramento total» do hospital. «Pretender-se-á com a transferência das parturientes para a Covilhã dar “o jeito” ao hospital da Covilhã para que no presente ano consiga atingir os 1.500 partos e assim garantir a permanência da maternidade para toda a região da Guarda e Castelo Branco», interrogam ainda os socialistas, liderados por António Saraiva. Os social-democratas consideram, por sua vez, que o processo «não está encerrado». Couto Paula, presidente da concelhia do PSD, prometeu «tudo fazer» para evitar o encerramento da maternidade do Hospital da Guarda, argumentando que «apenas existe uma maternidade no distrito» e que o serviço dá «resposta a uma área suficientemente grande», pelo que «é impensável ficar sem nenhuma».

Argumentos «falaciosos»

Para Joaquim Canotilho, líder da concelhia do CDS-PP, diz-se revoltado com a decisão do CA, argumentando que «não faz sentido estarmos preocupados com um novo hospital, se nem pessoal temos para trabalhar no actual». O dirigente diz que é lamentável que quem teve filhos no Sousa Martins corra o risco de «ver os netos nascerem noutro lado», sublinhando que esta situação prova que «cada vez mais há um desprezo total pelo interior». Defendeu, por isso, que se pressione o Governo no sentido de que a decisão não se torne definitiva. Já Honorato Robalo, do PCP, atira as culpas para os ministérios da Saúde dos sucessivos Governos, que não introduziram «políticas de planeamento» da formação dos médicos, vivendo-se agora uma grande carência de especialistas «na maternidade e noutras áreas do Sousa Martins, caso da Radiologia, onde basta a única médica encontrar outro hospital para o serviço também fechar na Guarda». Afirma ainda que a solução passa por o ministério implementar um sistema de «mobilidade temporária» de alguns recursos humanos de unidades hospitalares onde a falta de especialistas não seja tão premente até que hospitais como o da Guarda consigam captar pediatras. «Em caso contrário, deve aplicar o regime de convites, que vigorou a seguir ao 25 de Abril, a médicos dos grandes centros para trabalharem na província», sugere, admitindo que a situação vivida na Guarda aconteceu por «falta de vontade política» em resolver a eterna carência de pediatras no Sousa Martins.

O Bloco de Esquerda (BE), por seu turno, exortou a população da Guarda, movimentos cívicos e partidos políticos a lutarem pela reabertura da maternidade do hospital, recusando «este despudorado esvaziamento de serviços de saúde que este Governo de direita quer impor às populações do interior». De resto, considera que o CA usou de «argumentos falaciosos, que servem apenas para esconder a falta de organização e de sentido de serviço público, que grassa entre os responsáveis do hospital», já que a unidade foi encerrada com um quadro médico completo, que assegura regularmente a urgência 24 horas por dia, bem como a realização de cerca de mil partos/ano, «tantos quanto os hospitais da Covilhã e Castelo Branco somados».

Maria do Carmo Borges criticou igualmente o encerramento da maternidade, frisando que «não podem ser sempre os mesmo sacrificados». Aludindo à sugestão do presidente da Comissão Nacional Materna e Neonatal, Albino Aroso, de que deveriam encerrar as maternidades de Guarda, Castelo Branco, Covilhã, Figueira da Foz e Lamego, a autarca chamou a atenção para a distância a que estas localidades ficarão da maternidade mais próxima e para o número de nascimentos em cada uma delas, sublinhando que «a Guarda é a que tem maior número de partos». A autarca acusa ainda o CA do Sousa Martins de dar argumentos ao Ministério da Saúde para encerrar a maternidade definitivamente. «Não faz sentido que o Conselho de Administração encerre desta forma brutal a maternidade e encaminhem as grávidas para a Covilhã, de onde já vieram apelos de ajuda aos obstetras da Guarda. Assim sendo, o Governo poderá dizer no futuro que a maternidade encerrou porque não tem partos e isso acontece por vontade do Conselho de Administração», lamenta. Não foi possível conhecer a posição de Ana Manso sobre esta matéria por se encontrar no Chile, integrada numa visita da Assembleia da República.

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