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Uma região

Editorial

1. Depois de muita discussão e algumas indecisões, os autarcas da Beira Interior e Serra da Estrela chegaram a acordo sobre a instalação da Comunidade Intermunicipal (CIM). O mandato de quatro anos foi dividido em dois, sendo escolhido Vítor Pereira para liderar a primeira metade e Paulo Fernandes para a segunda. Esta originalidade não surpreende e provavelmente não será a melhor opção em termos de planificação de médio e longo prazo, mas, aparentemente, serviu para encontrar consensos e dar protagonismo a diferentes presidentes de Câmara. O primeiro mandato terá, pois, liderança dividida entre PS e PSD – no atual ciclo político nacional devia ser ao contrário. Pelo meio fica a ideia de que parte da discussão teve mais a ver com influência partidária do que com a substância da decisão. Mais do que uma vitória de Vítor Pereira, foi uma vitória do PS resultante da superioridade de autarquias socialistas (8 contra 7). Se a constituição das comunidades já foi feita nas costas dos cidadãos e tendo apenas a perspetiva e opinião dos presidentes de câmara, a sua governação resulta da predominância partidária e dos ditames do aparelho.

Decidido ficou também que a sede da CIM será na Guarda. Esse era um desígnio de Álvaro Amaro (e uma promessa publicamente assumida, ainda que de forma informal, num jantar-debate moderado por mim, antes mesmo de Álvaro Amaro ser candidato). O presidente da Câmara da Guarda preferiu defender a centralidade da Guarda no contexto regional e apostar numa das poucas opções de futuro para a cidade: a “capitalidade”. Amaro escolheu o caminho certo, prefere o peso da sede à “porta” que o etéreo protagonismo do momento que poderia significar a disputa da liderança num primeiro momento e a abertura de clivagens entre os 15 autarcas. Os milhões do próximo Quadro Comunitário irão passar pela CIM e o entendimento entre as partes pode ser um bom prenúncio de unidade numa comunidade que tem muito a ganhar em conjunto e tudo a perder se andar dividida. Amaro fica ainda com muita margem de manobra para influenciar decisivamente a escolha do secretário executivo, escolha que será determinante para o bom funcionamento da CIM, sem tergiversar nem ceder às clientelas partidárias.

2. Na abertura do ano académico do IPG, o presidente do Politécnico foi assertivo na reflexão que fez sobre o presente e o futuro da instituição. Constantino Rei podia ter optado por um requiem pelo Politécnico defendendo o caminho do «orgulhosamente sós», mesmo sabendo que o definhar da instituição será cada vez mais evidente e impossível de contrariar. A “ditadura” dos números ditados pela demografia são o maior inimigo do presidente do IPG, e de todas as escolas do interior (para não dizer de todas as escolas do país, a mais largo prazo). O “destino” do Politécnico da Guarda é similar ao de tantas outras instituições que no interior vão perecendo ostracizadas por Lisboa. Sem medidas estruturais, sem um plano de investimento público e criação de emprego qualificado no interior de Portugal nada poderá corrigir as assimetrias e o êxodo rural. Por isso, Constantino Rei sabe que o IPG deve juntar-se à UBI para fazerem uma instituição de ensino e de saber com outra escala, com maior dimensão e mais capacidade de inovar, de reivindicar e de se afirmar. E fez bem em antecipadamente ter apresentado à UBI um documento estratégico que promova a aproximação e preconize um caminho. Em entrevista a O INTERIOR, o Reitor da UBI, António Fidalgo, aponta 2016 como o ano em que pode iniciar-se uma nova etapa na vida do ensino superior na região. Sem pressas, mas com rapidez, que, como Machado nos ensinou, o caminho faz-se caminhando.

Luis Baptista-Martins

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