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Uma Questão de Preço

Poucas semanas passaram desde o início do pagamento de portagens na A23 e na A25 mas já podemos tirar algumas conclusões, mesmo que preliminares.

A primeira é que os objectivos do governo não foram nem vão ser conseguidos. A receita esperada não se vai obter, tanto foi o trânsito desviado para as estradas nacionais e tantas as viagens eliminadas pura e simplesmente. O encarecimento dos combustíveis, a diminuição dos rendimentos e o sentimento geral de que é necessário poupar esvaziaram rapidamente não só as antigas SCUT mas também as já existentes auto-estradas com portagem.

Outra conclusão que se vai retirar mais tarde ou mais cedo é que a tendência de diminuição da sinistralidade rodoviária, fruto do investimento em auto-estradas, vai parar ou até inverter-se. As estradas nacionais estão agora repletas de condutores habituados a conduzir depressa e que vão tentar continuar a chegar ao destino no mesmo tempo que levavam usando a A23 e a A25. Concluiremos ainda, sobretudo os condutores, que passámos a gastar mais pneus, mais travões e, já o sabíamos, muito mais tempo.

Isto é: vai sair muito cara a parca receita das portagens.

Mas não tinha de ser assim. É evidente que o preço de uma coisa está directamente relacionado com a sua procura e com a sua necessidade. Se a necessidade for absoluta e não houver alternativas, como é o caso da água e outros bens essenciais, teremos de pagar o preço que nos pedirem. Havendo alternativa, fazemos contas e escolhemos o mais barato desde que as restantes circunstâncias, como o tempo ou a comodidade, não sejam decisivas.

Tudo isto para concluir muito simplesmente que seria possível manter as SCUT como prioritárias para os utentes, assegurando o máximo de receita com as portagens e não deitando a perder os ganhos de segurança: bastaria encontrar um preço, mais baixo do que o já fixado, não tão alto que afugente os fregueses nem tão baixo que dê prejuízo. No fundo, bastaria encontrar o preço mais adequado ao mercado e a todas as variáveis em jogo. Não há economistas no governo?

Por: António Ferreira

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