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Uma Questão de Credibilidade

Continuo a acreditar que as candidaturas devem ser apreciadas pelo seu valor intrínseco, pelos dados objectivos que nos oferecem, mais do que pelos prestígios da propaganda e do marketing. Por isso, ofereço ao Google os nomes dos candidatos e estudo o que me é devolvido.

De Aires Diniz vêm dezenas de referências ao seu trabalho académico, às suas obras, aos seus artigos de opinião. É uma das pessoas que mais contributos têm dado para o estudo da região e para a procura de um caminho para a saída da crise. Azar ser da CDU e não estar na área do poder. Pena não ter colocado as suas propostas de candidatura no local por excelência da democracia contemporânea, a Internet.

De Joaquim Canotilho, informa-nos o Google, antes de o confundir com o professor da Faculdade de Direito de Coimbra, que foi eleito presidente da concelhia do PP e pouco mais. Também Jorge Noutel, do Bloco de Esquerda, pouco mais resulta do que a sua indigitação. De Eduardo Espírito Santo, nem isso (mas tem o melhor mural da campanha: “Nem Mansos nem Valentes, vota Eduardo Espírito Santo”!

Ana Manso tem uma página na Internet (www.anamanso.com) com música pimba em pano de fundo. Começa por expor o seu “amor” à Guarda com o palpitante bater de um coração enquanto alguma coisa vai carregando e dando detalhes sobre quanto foi “carregado”. Acabada de carregar a coisa descobrem-se, ao fundo da página resultante, as propostas programáticas da candidatura. Estas aparecem organizadas em meros tópicos, com uma arrumação algo discutível. De qualquer forma, pelo menos mostra ao que vem.

Para descobrir as propostas de Joaquim Valente (e uma melhor concretização das de Ana Manso) temos de ir às entrevistas. Joaquim Valente tem um blogue, não uma página, mas não se lhe descobre o endereço através do Google.

Que nos dizem as propostas de ambos? Pois que basicamente pensam fazer o mesmo quando forem eleitos. Falam da estrada verde, da PLIE, da alameda da Ti Jaquina, do programa POLIS. Propõem-se investir em tecnologia, no ambiente, em parcerias, no turismo. Pensam apoiar mais e melhor os idosos, reivindicar mais e melhores recursos. Inquietam-se ambos com o endividamento camarário e com as perspectivas de futuro do IPG e da DELPHI.

Em vez de apontar um dedo acusador a qualquer deles e insinuar plágios de programas eleitorais, prefiro constatar o óbvio: fizeram ambos o trabalho de casa e estão ambos conscientes das dificuldades existentes e do que é indispensável fazer.

Posto isto, o eleitor tem de votar e escolher um presidente de câmara. E tem de o fazer sabendo uma coisa: o melhor candidato, aquele que melhor desempenho tem na campanha, não é necessariamente o que melhor irá desempenhar as funções para que for eleito. É que as Câmaras não se gerem com debates e entrevistas, mas sim com o duro, ingrato e muitas vezes invisível trabalho do dia-a-dia. É por isso que, sabendo que os partidos têm um programa praticamente comum, praticamente consensual, teremos de escolher o candidato mais apto, mais credível para o levar à prática.

Por: António Ferreira

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