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Uma prenda de Natal

Os últimos anos têm sido particularmente maus para a nossa região. A criação de emprego não compensa os postos de trabalho destruídos, ao contrário do que acontece no país, e todos os anos tem partido gente à procura de melhores condições. O pouco emprego criado é de baixa qualificação e baixos salários e o sentimento geral é de que se a situação económica melhorou um pouco, era preciso que melhorasse muito mais.

A demografia também não ajuda: já não há a pirâmide etária tradicional e os nascimentos têm uma tendência de diminuição, até porque há cada vez menos mulheres em idade fértil e as que há têm cada vez menos apetência para a maternidade. Em cada ano vão-se embora centenas de jovens para as universidades. Não são muitos os que regressam no final do curso e, quando o fazem, é declaradamente por pouco tempo. Tudo isto torna a região pouco atrativa para o investimento de empresas à procura de trabalho qualificado e acelera a espiral de desinvestimento, abandono e desistência.

Restam o negócio da velhice e o turismo. Há cada vez mais aldeias em que o único sinal de vida é o lar da terceira idade e em que este fornece os únicos empregos disponíveis, mas há também lares a fechar, à míngua de utentes, muitos anos depois de ter fechado a escola. As crianças podem ou não nascer, mas os velhos vão morrer de certeza. O turismo, nas paisagens do interior devastadas pelos incêndios, não está ao nível das expectativas do resto do país. Há praias fluviais e rios poluídos pelas cinzas e pelo carvão, infraestruturas destruídas, um desânimo geral.

Parece evidente que alguma coisa tem de rapidamente acontecer para salvar toda a região. Seria necessário algo bem mais dramático e efetivo do que tem sido feito, com tímidas medidas de apoio à fixação de populações e empresas que têm resultado em muito pouco e em muito menos do que o necessário.

Há algo que pode fazer-se e deveria já ter sido feito há muito tempo: a redução significativa ou até a eliminação das portagens na A23 e na A25. Uma ida a Lisboa e regresso custa pelo menos 110 euros e ao Porto pelo menos 70 euros. Em viaturas comerciais fica ainda mais caro. Isto, se é mau para as famílias é-o também para as empresas e depois, de novo, para as famílias. Recentemente, por questões de segurança, cortou-se a N18 entre Aldeia do Bispo e a Benespera, o que significa que a A23 passou a ser a única possibilidade nesse percurso – como o é em muitos outros troços da rota até à A1, o que reforça a ideia geral de injustiça.

É verdade que as portagens são uma receita importante, mas também é importante reduzir a sinistralidade para os níveis anteriores à sua cobrança e, sobretudo, mostrar sinais de que se vai mesmo fazer algo significativo pelo interior.

Por: António Ferreira

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