Carros “artilhados”, com pinturas mais ou menos radicais, interiores tratados ao pormenor e potentes colunas que emitem um som estridente, como se fossem uma discoteca ambulante, “invadiram” no último domingo o pavilhão do Nerga, na Guarda. O I Encontro Tuning da cidade contou com a participação de cerca de 170 adeptos, vindos um pouco de todo o país e até de Espanha. Entre os participantes, todos são unânimes de que o “tuning” é uma paixão que requer muito tempo e principalmente dinheiro, tudo dedicado ao prazer de poderem “transformar” o seu carro.
Apesar da chuva ter atrapalhado «bastante» a concentração, o que terá levado alguns interessados a não virem até à Guarda, a organização ficou satisfeita com a receptividade gerada pelo encontro, realça Marina Lopes, presidente do Egi Tuning. Entre os carros participantes, a maior parte possuía «muita qualidade», daí que tenham proporcionado um «bom espectáculo» ao muito público que não quis perder a oportunidade de observar “in loco” veículos que não abundam na região. Para os menos familiarizados com este movimento, o “tuning” está essencialmente ligado à «estética e ao som», explica Bruno Antunes, fundador do clube organizador. António Carlos Silva, de Viseu, é já “cliente habitual” de muitos encontros “tuning” por todo o país onde gosta de exibir o seu Audi A4. Não foi por acaso que garantiu um lugar na categoria de top 3 interior. Este jovem confessa que a paixão que nutre pelo “tuning” fica «um bocado cara» e mesmo apesar de «não ser dos que mais gasta», adianta que tem «quase 10 mil euros investidos» no carro.
Aliás, o “tuning” acaba por ser «um vício», já que daqui por um ano está a pensar introduzir «mais umas alterações no carro», onde provavelmente irá gastar entre 20 a 25 mil euros. Mas o orgulho do seu veículo ser quase sempre premiado onde quer que vá é quanto baste. No entanto, muita gente ainda olha o “tuning” de “soslaio”, como se fosse uma actividade marginal, conotando-o com os “street racers”. «É muita pena estarmos num país um bocado atrasado. Implicam com um carro equipado, mas não são eles que pagam o equipamento. O que é que uma jante ou um pneu maior têm de mal? Até dão mais segurança», realça António Carlos Silva. Críticas partilhadas por Jorge Caniça, proprietário de uma loja de artigos “tuning” no Fundão. Os produtos estão «com boa saída», mas poderiam ter mais ainda caso deixasse de haver tanta «burocracia por parte dos políticos». É uma modalidade que está «em expansão no país e acho que deviam ir para a frente com isto. Mas infelizmente os nossos políticos não estão muito para aí virados», lamenta. No seu Fiat Bravo todo “kitado” já gastou perto de cinco mil euros. «É uma paixão muito cara, mas vale a pena», assegura.
Dois dos carros que deram indiscutivelmente mais nas vistas vieram do outro lado da fronteira, mais concretamente de Ciudad Rodrigo. O Opel Calibra de Fermin Lopez foi até considerado o “melhor carro” do certame, tendo ainda ganho os prémios de maior escape e melhor aerografia (pintura). O jovem espanhol confessa que este é o «vício» mais caro que há. «Tenho um “montão” de dinheiro aqui investido», diz orgulhosamente, apontando para o seu “bólide”. Já o irmão, Leonel Clement, apresentou-se com o seu BMW, que também deu bastante “show” e mereceu um lugar na categoria de top 3 interior. Como todos os outros adeptos do “tuning”, também ele já gastou uma quantia considerável para embelezar o seu carro. «É uma paixão um pouco cara, mas é saudável para um jovem», considera, e, ao contrário do que alguns possam pensar, «não é dinheiro perdido», garante. De referir que a receita angariada pela Egi Tuning neste encontro reverterá a favor dos Bombeiros Voluntários da Guarda.
Ricardo Cordeiro