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Uma novidade antiga

Mitocôndrias e Quasares

Durante o mês de Novembro foi anunciada a descoberta de água na Lua pela Agência Espacial Norte-Americana, NASA. Esta novidade foi amplamente difundida pela diversos meios de comunicação social tendo eco em todo o mundo. Mas até que ponto se trata de uma verdadeira novidade?

Através de uma breve pesquisa pelos diversos motores de busca da web podemos encontrar entradas para a presença da água na Lua meses antes desta notícia. A própria NASA noticiou, em Setembro passado, a descoberta de partículas de água no solo da lua. A descoberta resultou de um estudo de um grupo de investigadores da Agência Espacial Norte Americana, tendo sido publicado pela revista Science. Estudo recorreu a dados fornecidos pelo “Moon Mineralogy Mapper” ou M3, um instrumento da Nasa transportado a bordo do Chandrayyan-1, o primeiro satélite indiano a ser colocado em órbita lunar. Este instrumento de cartografia mineralógica da Lua analisa a reflexão da luz do sol sobre a superfície lunar com o objectivo de determinar a sua composição.

A luz é reflectida em comprimentos de ondas diferentes, de acordo com a natureza dos minerais. A partir daí os cientistas podem utilizar estas variações para determinar a composição da camada superior do solo da Lua. Um comprimento de onda luminoso detectado pelo M3 indica a existência de um elemento químico que liga o hidrogénio e o oxigénio. Os autores deste trabalho defendem que isso prova a existência de água, formada por dois átomos de hidrogénio ligados a um átomo de oxigénio.

No trabalho agora tornado público pela NASA, a detecção da presença de água foi feita de forma diferente através da análise do impacto de uma sonda com a superfície lunar. A missão LCROSS – Satélite de Detecção e Observação de Crateras Lunares, lançada em 18 de Junho de 2009 transportou um foguetão, Centauro, que colidiu com a cratera Cabeus, próximo do pólo Sul lunar.

Do impacto resultou a ejecção de material. A análise deste material, por instrumentos colocados em órbita e na Terra, permitiu confirmar a presença de água.

Os espectrómetros – instrumentos ópticos utilizados para medir as propriedades da luz numa determinada faixa do espectro eletromagnético – que estão dentro da nave analisaram a nuvem de modo a encontrar sinais de água, fragmentos de água (OH), sais, argilas, minerais hidratados e moléculas orgânicas.

Mas se a presença de água na Lua já era conhecida, qual o motivo da publicação desta notícia?

É tudo uma questão de orçamentos?! Este argumento foi recentemente defendido pelo astrónomo português, Pedro Russo, coordenador internacional do Ano Internacional da Astronomia, numa recente tertúlia no café-concerto do Teatro Municipal da Guarda.

Para este cientista, a restrição orçamental na NASA provoca uma feroz competição entre os diferentes departamentos procurando valorizar e legitimar a importância da pesquisa desenvolvida. Neste sentido, procurar o interesse da opinião pública por determinada pesquisa, isto é, ter um público motivado pela importância de um projecto, pode ser fundamental para angariar os recursos financeiros essenciais para o desenvolver.

Esta ideia mostra como o esforço da ciência não se restringe ao trabalho laboratorial, mas é necessário investir política e economicamente para atingir resultados científicos.

Por: António Costa

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