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Uma «lição de vida» chamada Timor-Leste

Bruno Torres, de 31 anos, mudou-se há alguns meses da Guarda para Timor-Leste, onde tem colaborado com duas escolas de Aileu

«Levaram-me a uma sala para me apresentar à turma, na minha primeira aula prática de futebol, e qual não foi o meu espanto quando me deparo com 110 alunos». Assim começa uma das histórias que mais marcou Bruno Torres desde que partiu para Timor em busca de novas oportunidades profissionais.

O objetivo deste guardense era, à partida, integrar o Projeto de Formação Inicial e Contínua de Professores em Timor-Leste, ao qual se candidatou no início de 2012. «A minha namorada foi selecionada e eu, infelizmente, não. Ela veio em setembro e eu fiquei como professor nas AEC’s (Atividades de Enriquecimento Curricular) no Agrupamento de Escolas de S. Miguel», adianta. «Decidi arriscar para tentar arranjar um emprego mais rentável e com outras perspetivas de futuro», afirma o professor de Educação Física, que era até há poucos meses capitão da equipa de futsal das Lameirinhas. Enquanto as oportunidades profissionais não surgem, Bruno Torres vai ajudando quem mais precisa: «Achei que podia contribuir e decidi oferecer a minha ajuda ao professor de desporto» da Secundária Pública de Aileu, revela.

A primeira aula surpreendeu-o: não havia campo de futebol e só tinham uma bola, comprada pelo guardense. «Os alunos disseram-me que tinha sido a melhor aula de sempre porque praticaram, algo que nunca tinha acontecido devido à falta de uma bola», recorda o docente, acrescentando que o desporto era lecionado de forma teórica com base num livro português de 1990: «A minha mãe enviou-me os meus livros de Educação Física e já os ofereci ao professor. Não imaginam a sua felicidade ao recebê-los», refere, dizendo que também já deu aulas práticas na Escola de Referência do mesmo distrito. Até agora, o balanço desta aventura em Timor-Leste é positivo: «Todos devíamos vivenciar este tipo de experiências, pois são grandes lições de vida», afirma o guardense.

«Num contexto como Timor aprendemos a valorizar e ganhamos consciência do que realmente importa», sublinha Bruno Torres, que encurta a distância da família e amigos através as redes sociais, mas «há coisas que as tecnologias não podem oferecer e as saudades apertam um pouco mais, são apenas alguns momentos, depois passa», confessa o docente. Por outro lado, a Internet em Timor-Leste é cara e «numa chamada de cinco minutos “cai” várias vezes», lamenta. Bruno Torres tem «algumas possibilidades» de trabalho em aberto e assume que o seu futuro imediato não passa por Portugal, «com muita pena minha». O guardense considera que os jovens têm de aceitar que, «para um dia podermos desfrutar de alguma estabilidade nesses locais, precisamos de, numa altura da nossa vida, procurar sustento fora deles».

Sara Quelhas Muitos jovens praticaram desporto (em aula) pela primeira vez

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