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Uma grande treta

Agora Digo Eu

Especialmente em época de eleições, costumam aparecer por aí algumas vozes a lamentar o “bota-abaixismo” e o “dizer mal”. Não percebem que o problema é ao contrário. Os portugueses são educados a não gostar que se diga mal.

Ora, “dizer mal” é uma condição necessária do desenvolvimento, só dizendo mal é que se pode aperfeiçoar e melhorar seja lá o que for. Se Portugal é um país relativamente pobre e atrasado não é por os portugueses dizerem mal, é, ao contrário, por não gostarem que se diga mal. Há também quem tenha dificuldades em perceber o valor dos conselhos negativos – “Não faça”. Não fazer nada é preferível a fazer alguma coisa potencialmente nociva.

Dito isto, a Guarda não foge à regra. Senão vejamos. Muitos exortam a própria oposição a elogiar os méritos da atual governação, como se não houvesse já gente suficiente para fazer esse serviço. Numa democracia, a principal função da oposição é chamar a atenção para o que está mal – e, na Guarda, não faltam motivos e pretextos para esse exercício – e apontar caminhos alternativos. Para “dizer bem” de quem está no poder nunca faltaram voluntários. Nem meios. A Câmara da Guarda gasta pazadas de dinheiro em propaganda. Recorre ao erário público para espalhar cartazes por todo o concelho a anunciar o renascimento de mil e uma coisas, inclusive dos mortos, como sugeria há tempos um cartaz plantado à beira de um cemitério. Num Boletim Municipal de milhares de euros, dezenas e dezenas de fotos mostram Álvaro Amaro a louvar tudo o que autarquia faz ou promete fazer.

Sabujos e lambe-botas, disfarçados de comentadores, esgadanham-se para ver qual deles elogia mais o Presidente. Gente que andou a vida inteira a militar ou a rondar o CDS e o PS e sempre criticou o PSD e Álvaro Amaro viu de repente a luz e converteu-se ao novo messias beirão. E, no entanto, é necessário que alguém informe o gerente, alto e em bom som, sempre que o leite estiver estragado. Se a oposição não cumprir esse dever cívico, quem mais o cumprirá?

A 8 de abril de 2013, quando Álvaro Amaro aterrou na Guarda como candidato à Câmara, apenas meia-dúzia de pessoas se chegaram à frente para o apoiar. Na altura, não era tão fácil como agora dar a cara. Os outros, os que com o tempo se foram colando à caravana do poder, são na sua maioria uns oportunistas, sem vergonha na cara. A «grande coligação substantiva pela Guarda» de que fala agora Amaro é uma grande treta – para não lhe chamar outra coisa. E Álvaro Amaro, que tem muitos defeitos, mas de parvo não tem nada, sabe isso melhor do que ninguém.

Por: José Carlos Alexandre

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