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“Uma Esplanada sobre o Mar” estreia em Gouveia

Escola Velha apresenta sábado conto inédito de Vergílio Ferreira

O grupo Escola Velha – Teatro de Gouveia estreia sábado à noite na “cidade jardim” a sua última produção, “Uma Esplanada sobre o Mar”. Trata-se de uma adaptação do conto inédito de Vergílio Ferreira levada à cena no Cine-Teatro local com dramaturgia de Luís Nogueira e encenação de António Godinho, apresentada em Dezembro último em Coimbra no âmbito da Rota dos Escritores da Capital da Cultura 2003. A peça fala-nos de uma descoberta: «De como a acção inexorável do tempo torna a nossa vida preciosa, precária, mas plena de um sentido desperto pela atenção às coisas e à sua valoração alheios a qualquer determinismo», escreve o encenador.

Este texto, publicado em 1986, permanece ainda um mistério na vasta obra do romancista gouveense, mas nele se observam facilmente alguns temas e preocupações recorrentes do escritor: a acção do tempo, a grandeza irredutível da vida, que Vergílio Ferreira situa no último reduto das coisas e que, só por si, poderá esbater algum desencanto e algum cepticismo que passam pela sua obra. Mas essa descoberta de modo nenhum poderá querer dar razão àqueles que tomam esse pudor como pessimismo. Aliás, é o próprio autor quem o desmente em “Conta-Corrente IV”: «Há que pensar como um pessimista e agir como um optimista…», escreveu, a título de lema para as correntes existencialistas, e nomeadamente para aqueles autores que, afinando por esse tom, melhor resistirão ao tempo, caso de Albert Camus ou Kirkegaard, por exemplo. Segundo António Godinho, no texto de apresentação da peça, essa descoberta, «depois de vivida como uma epifania, é comunicada no decurso de uma situação aparentemente banal, um encontro entre um casal de namorados numa praia. Aí, num contexto onde a conversa íntima poderia ter outros desenvolvimentos, eis que o mais poderoso de todos se impõe e dita as suas regras: é a morte que dá sentido pleno à vida».

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