Depois de construir um Yurt (habitação portátil típica da Ásia), chuveiros e casas-de-banho ecológicos, a Associação Luzku-Fuzku tem em marcha a construção de um teatrinho de fardos de palha. O workshop decorre até dia 20 deste mês e está aberto a todos os interessados. Por ali deverão passar crianças e jovens da Aldeia SOS da Guarda e da CERCIG, para além de dezenas de jovens de todo o país, incluindo dos Trinta, onde a Comunidade Internacional de Terapias Naturais e Artísticas está sedeada, e de vários pontos do mundo, como Japão e Israel.
Os participantes no projecto “Ecompanhamento” «ajudam em todas as tarefas relacionadas com a construção, consoante os interesses e habilidades de cada um», refere Mirjam Olsthoorn, responsável pela Luzku-Fuzku. Movimentar terras, partir pedras, amassar barro, levantar e rebocar paredes e construir o telhado são alguns dos trabalhos necessários. A “Juventude em Acção” – este é também o nome do programa comunitário que apoia o projecto – pode dormir em tendas ou no yurt, e a alimentação é fornecida pela quinta onde tudo decorre, junto ao rio Mondego. Mediante confirmação prévia, os voluntários podem ficar um mês, oito dias ou apenas um fim-de-semana, consoante queiram. Pedro Duarte, que monitoriza o workshop com Frits Rietman, pretende erguer «um pequeno edifício que dê para tudo o que seja comunicar com os outros». A ideia dos fardos de palha surgiu por reunir uma série de vantagens sobre muitos outros materiais: é uma técnica simples, ainda sem “especialistas”, facilita a auto-construção, usa materiais reciclados ou recicláveis, introduz bastante conforto térmico e acústico, para além de ser endógeno. Para além da palha, os cerca de 60 metros quadrados terão um muro permeável, em pedra e saibro extraídos do alisamento do terreno e argila.
Mirjam Olsthoorn acredita que o teatrinho pode receber espectáculos de música e artes performativas para cerca de 40 pessoas – a dimensão é a ideal, por exemplo, para o teatro de marionetas – mas também momentos criativos de artistas que ali vão, individualmente.
«Assistimos sempre ao teatro em ambiente urbano e ter uma sala de teatro com um meio natural à volta pode ser um contraste surpreendente», realça. Esse é um dos trunfos apresentados pela ecologista holandesa, uma vez que «o teatrinho não acaba com as paredes, pois há uma natureza muito forte que não queríamos negligenciar». O contraste referido por Pedro Duarte tem maravilhado Hilla, de Israel: «Este lugar é um pedaço do céu. Viver no meio da floresta, com um rio, coisas a serem criadas do nada é inspirador». A jovem israelita nunca tinha estado numa quinta do género, mas gostou da Luzku-Fuzku e pretende voltar.
Quando o teatrinho estiver pronto, ao que tudo indica no final deste mês, Mirjam Olsthoorn pretende convidar o grupo de teatro dos Trinta, colectividades da Guarda e da região, e também «artistas que queiram estar aqui três semanas, ou três meses, a trabalhar na natureza, ou que queiram estar apenas com eles mesmos». A construção do edifício também fará dele «uma grande caixa isotérmica, com meio metro de espessura a fazer um isolamento muito bom», argumenta Pedro Duarte, que vê ali potencialidades para um estúdio de gravação. Para além disso, o enquadramento paisagístico, literalmente a meia dúzia de metros do rio e com as encostas da Serra da Estrela bem de frente, faz com que desenho, literatura, pintura e fotografia também tenham um lugar privilegiado.
A higiene, a habitação e a cultura sustentáveis
Pedro Duarte defende haver milhares de materiais usados na construção que têm levantado inúmeros problemas, desde a falta de testes, às dificuldades de reciclar. “Ecompanhamento” pretende construir edifícios ecológicos utilizando diferentes técnicas de construção orgânica. As casas de banho, o chuveiro ecológico e o yurt já estão de pé, o teatrinho em construção e, dentro de algum tempo, deverá também estar terminada, em barro, aquela que era a casa principal da quinta. Tudo isto através de workshops em que «o mais importante não é fazer a construção, mas levar as pessoas a aprender construir, para que percam o medo de o fazer. É irracional que alguém passe a vida a trabalhar para pagar o seu próprio abrigo», lamenta Pedro Duarte, que descobre, por detrás destas construções sustentáveis, maior qualidade, conforto e poupança que nas construções que hoje brotam nas cidades. Para fugir a essa confusão, Carlos Ribeiro saiu do Porto: «Aqui consigo aprender muita coisa, a safar-me sozinho, a cultivar a minha comida, a construir o meu abrigo». O jovem nortenho estará nos Trinta durante duas semanas mas pretende voltar para o próximo workshop. Esta vontade de regressar, patente em muitos jovens, é precisamente um dos aspectos que Mirjam Olsthoorn destaca: «É muito encorajador. O que eles gostam especialmente é que conseguem por mãos à obras, e saem daqui mais capacitados para começar no sítio onde vivem ou trabalham».
Igor de Sousa Costa