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Um por todos e todos pelo queijo

Recém-criada Confraria dos Produtores e Amigos do Queijo Serra da Estrela promete valorizar e defender o verdadeiro produto

“Com solidariedade, tudo pela região e pelo seu queijo” é o lema da recém-criada Confraria dos Produtores e Amigos do Queijo Serra da Estrela, que reúne pastores e produtores do concelho de Seia. De capas e chapéu castanhos, cajado na mão e algumas insígnias, os cem novos confrades, homens e mulheres, desfilaram sábado pelas ruas da cidade suscitando curiosidade entre os visitantes da tradicional feira do queijo senense. Os novos confrades foram entronizados numa cerimónia realizada, com pompa e circunstância, nos Paços do Concelho.

«Já tínhamos prometido no ano passado que pretendíamos promover os produtores do queijo e foi o que fizemos», congratula-se Eduardo Brito, presidente da Câmara de Seia, referindo-se à criação da nova confraria. Em Abril serão eleitos os órgãos sociais e «provavelmente vão ser entronizados novos confrades», adianta o autarca, sublinhando que esta associação tem por finalidade a promoção, divulgação, valorização e defesa do verdadeiro Queijo Serra da Estrela, produzido na Região de Denominação de Origem Serra da Estrela. Uma actividade que já é «bastante rentável» do ponto de vista financeiro e por isso «vale a pena apostar nela», garante. De resto, espera-se que a confraria venha a ser um «amplo» espaço de debate e de troca de impressões sobre os problemas que afligem o sector, a informação dos mecanismos financeiros colocados à disposição dos produtores e a canalização relevante ao exercício da actividade, entre outros. «Queremos valorizar o papel do pastor, muitas vezes esquecido e visto como uma profissão menos digna», sustenta Eduardo Brito. Quanto aos critérios para integrar a confraria, os interessados devem obrigatoriamente ser produtores de leite de ovelha bordaleira. Já o estatuto de “amigos” é atribuído a convidados, como os donos de fábricas que produzem queijo industrial. «Como é outra realidade, têm um estatuto diferente», justifica.

A avaliar pelos novos confrades entronizados, «há uma elevada percentagem de jovens que dão uma grande confiança ao concelho», considera o edil. Quanto às constantes quezílias entre produtores artesanais e industriais, Eduardo Brito espera que elas se «esbatam na confraria, pois também tem esse objectivo de mobilizar e unir cada um com as suas diferenças».

A Festa do Queijo

À semelhança de edições anteriores, a Feira do Queijo contou com mostras de queijo, mel, artesanato, ovinos, vinhos e até dos pachorrentos cães Serra da Estrela. Ao todo, a organização mobilizou cerca de 100 pastores e queijeiras do concelho, cerca de 50 apicultores e outros tantos artesãos e criadores de cães e de ovinos. Mais do que uma feira, «é uma festa do queijo», afiança o autarca. Trata-se de uma manifestação popular em torno de um produto, porque o queijo é «o centro das atenções», garante Eduardo Brito. No sábado só faltou a neve, mas havia outros atractivos, como a animação de rua com actuação de filarmónicas e ranchos folclóricos. O evento contou ainda com um concurso de doces tradicionais, promovido pela Escola Profissional da Serra da Estrela, e várias exposições. Isabel Correia, de 46 anos, é produtora de queijo há alguns anos e iniciou esta actividade por amor à profissão. Depois de ter trabalhado numa fábrica, gere agora o seu próprio negócio juntamente com o marido, António Manuel, entronizado confrade. «Foi o meu marido, não podíamos ir os dois, alguém tinha que olhar pelo negócio», esclarece. «Este ano a quantidade pode ter sido prejudicada pela seca, mas a qualidade é melhor», garante a produtora. Em Seia, o queijo foi vendido a dez euros o quilo e «as vendas não estiveram assim tão más», garante. De acordo está Maria Rebelo, produtora há 45 anos, que, num ápice, vendeu «uns tantos».

Patrícia Correia

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