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Um País …

Entrementes

… que não só permite como incentiva (para não dizer, invetiva) os seus jovens a emigrar;

… que forma jovens quadros com dinheiros públicos que, afinal, são de todos nós, para depois irem enriquecer países estranhos;

… que assiste a escândalo atrás de escândalo sem que, â luz do que se conhece, veja a espada da justiça a cair sobre os prevaricadores de colarinho branco;

… que se acocora perante ditames de governantes estrangeiros e se esquece de que um Estado soberano também é constituído pelo seu povo;

… um país que assiste ano após ano a resultados escolares assustadoramente medíocres e que insiste em promover o facilitismo e a lei do “laissez faire, laissez passer”;

… um país que contrata (seja lá ele qual for o esquema de contratação) uma entidade estrangeira para elaborar exames de inglês cujo certificado custa aos alunos a módica quantia de vinte e cinco euros (e viva o ensino público obrigatório e gratuito…);

… um país cuja classe política se esquece de quem é e de onde veio mal se alcandora a lugares de poder;

… um país cujos governantes, à laia e com a mesma perspetiva de futuro do merceeiro da esquina (sem ofensa para este último…), e não conseguem entrever forma de cortar na despesa do estado a não ser fazer emagrecer os salários;

… um país cujos governantes diabolizam a função pública (no fundo os seus, digamos, empregados) como se ela fosse a origem de todas as maleitas;

… um país cujo primeiro magistrado se esquece de parabenizar um dos vultos desse património imaterial da humanidade que é o fado quando, internacionalmente, é distinguido por uma vida de talento puro;

… um país em que o mesmo personagem distingue, com pompa e muita circunstância, um conjunto de bons rapazes que estavam então de saída rumo a terras de Vera Cruz para uns pontapés na redondinha;

… um país cujos governantes insistem em destruir o tecido social criando cada vez maiores assimetrias;

… um país em se apresenta um programa de governo ao eleitorado para na noite das eleições ser rasgado em pedacinhos e ser posto em prática o seu contrário;

Bem, deste país apetece dizer que não é forçosamente necessário ser-se louco ou masoquista para insistir em continuar a viver nele, mas lá que ajuda muito, lá isso ajuda…

Por: Norberto Gonçalves

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