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Um mundo dentro do Mundo

mitocôndrias e quasares

Quando falamos em exploração de “novos mundos” associamos rapidamente à exploração espacial, às grandes viagens pelo espaço inter-estelar… Contudo, um destas grandes viagens, destes novos mundos encontra-se aqui na Terra, trata-se do fundo dos oceanos.

Tão escuro como desconhecido, o fundo dos oceanos é uma região do planeta muito pouco explorado por Homem. Sendo uma região de grandes dimensões, a superfície ocupado pelos oceanos é cerca de 75% do total da superfície do planeta, é curioso que ainda se conheça tão pouco desta região. A este facto não será alheia a enorme dificuldade em atingir o fundo oceânico, uma vez que á medida que descemos em profundidade, a pressão sobe para valores muito elevados.

Quando a exploração espacial está novamente relançada, com objectivos bem definidos, será importante conhecer o fundo dos oceanos, uma vez que grande parte das investigações requerem grandes investimentos?

O fundo oceânico possui numerosas fissuras, através das quais as águas entram em contacto com rochas quentes, formadas recentemente a partir de magmas. As rochas de temperatura mais elevada localizam-se essencialmente ao longo dos «riftes» oceânicos, as cadeias montanhosas submarinas onde se geram continuamente as rochas do fundo do mar. A água desce através das fissuras e atinge temperaturas muito elevadas. Aquecida, sobe e arrasta consigo vários metais das rochas circundantes. Quando emerge no fundo do oceano, o fluido é rico em metais e deposita em torno da abertura um resíduo sólido, que forma uma autêntica chaminé. Essa chaminé fumega sem parar, a temperaturas que alcançam os 360 graus Celsius, e mantém-se activa durante dezenas de anos, por vezes talvez até uma centena, criando condições para o desenvolvimento de um estranho ecossistema. A biomassa aí encontrada é dez a 100 mil vezes superior à dos outros povoamentos existentes à mesma profundidade.

Estudar esta região é essencial para perceber tudo acerca dos processos nível geológico e biológico que se desenrolam em torno destes campos hidrotermais.

Um dos campos hidrotermais mais activos encontra-se em território português, mais propriamente ao largo do arquipélago dos Açores. Esta região de águas profundas foi descoberta em 1993, sendo Luiz Saldanha e a outros especialistas norte-americanos e franceses os responsáveis pelo “achado”. O campo então descoberto foi baptizado de “Lucky Strike”.

Nessas zonas hidrotermais profundas descobriram-se quase 400 espécies até então desconhecidas. Estes organismos apresentam uma cadeia alimentar um pouco diferente, uma vez que nela existe flora que não depende da energia solar para se desenvolver e ainda um conjunto de animais que vivem em condições extremas.

Na base da cadeia alimentar aparecem bactérias que obtêm a sua energia básica a partir da oxidação de sulfuretos, presentes nos fluidos que emergem das chaminés submarinas. Alimentando-se dessas bactérias, aparecem vermes e moluscos bivalves gigantescos, com 26 centímetros de comprimento.

Esta descoberta trouxe implicações científicas muito grandes na medida que possibilitou a especulação acerca de novos ambientes onde seres vivos pudessem sobreviver, que até então eram impensáveis. È aqui, que entra novamente a exploração espacial porque a descoberta destes novos ambientes lança a questão sobre a possibilidade de existirem seres vivos em outros planetas. A esta questão só será possível responder quando esta vaga de missões espaciais começar a enviar resultados para a Terra.

Por: António Costa

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