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Um cidadão de dois países e uma só pátria

Espanhol Antonio Sáez Delgado recebeu Prémio Eduardo Lourenço atribuído pelo Centro de Estudos Ibéricos

«Não me sinto mais espanhol do que português». Antonio Sáez Delgado fez um discurso arrebatador que arrancou muitos aplausos à plateia na entrega do Prémio Eduardo Lourenço 2014, realizada na última quinta-feira, na Guarda. O professor de literatura, tradutor, crítico literário e escritor espanhol recebeu o galardão das mãos do próprio ensaísta que dá nome ao prémio e que considera uma «pessoa capital» na sua formação.

Antonio Sáez Delgado confessou a sua «grandíssima honra» pela distinção atribuída pelo Centro de Estudos Ibéricos, «por um lado, porque é um prémio com um júri muito prestigiado e, sobretudo, porque tem o nome de Eduardo Lourenço, que é para mim o vulto mais importante do pensamento ibérico dos nossos dias». O galardoado sublinhou que o prémio tem «um grande significado» e, ao mesmo tempo, representa um «grandíssimo compromisso» para o seu trabalho «no futuro». No seu discurso, António Sáez Delgado mostrou-se orgulhoso por ficar «já de alguma maneira unido para sempre» a Eduardo Lourenço e à Guarda, que disse ser na sua «educação sentimental a terra de outros dos meus mestres, o saudoso poeta e amigo Manuel António Pina». Antonio Sáez Delgado frisou que Eduardo Lourenço «fez tanto por nós que é um Dom Quixote da cultura ibérica» que «nos fala sempre com palavras pequenas dos assuntos maiores». O premiado aprendeu «a amar um país onde as pessoas falam mais baixo» e recordou as viagens de carro que fazia quando era criança juntamente com os pais e o irmão a Lisboa, Portalegre e Castelo Branco. Disse acreditar no «privilégio de viver entre os dois países», sendo que «nos últimos 20 anos» passou «tanto tempo em Espanha como em Portugal», uma vez que reparte a semana entre os dois países, mas garante ter apenas «uma pátria». António Sáez Delgado está «convencido de que um bilhete de comboio é sempre mais útil do que um bilhete de lotaria» e que «atravessar uma fronteira é sempre o melhor caminho para nos conhecermos». Manifestou vontade de que os seus filhos «amem Portugal» como o pai e fez uma afirmação que arrancou gargalhadas à plateia: «Há uma fronteira que já não existe, saio de Badajoz às oito da manhã, percorro 100 quilómetros e quando chego a Évora o relógio da Catedral marca cinco para as oito».

Por sua vez, o patrono e diretor honorífico do CEI considera o galardão atribuído a Antonio Sáez Delgado «mais do que justo» por ser uma pessoa «de grande qualidade, não só de pensamento, de sensibilidade, mas também de ética», para além de escrever com «uma grande simplicidade». Eduardo Lourenço sustenta que o autor espanhol «não foi corrompido pela corrida à glória, fala de coisas fundamentais, tem um sentido imenso do que é próximo, do que é autêntico, da terra e da família». António Sáez Delgado é professor de Filologia Hispânica na Universidade de Évora, tendo-se destacado pela tradução de grandes vultos da cultura portuguesa contemporânea como Fernando Pessoa, António Lobo Antunes, Manuel António Pina, José Gil e Teixeira de Pascoaes, entre outros. O júri decidiu atribuir o prémio a Antonio Sáez Delgado «pelo seu relevante papel no âmbito da cooperação e da cultura ibéricas, realçando as facetas de mediador cultural, escritor, investigador e professor, que o colocam na vanguarda deste campo da cultura». Criado em 2004, o prémio destina-se a galardoar personalidades ou instituições com intervenção relevante no âmbito da cultura e da cooperação ibéricas.

Álvaro Amaro pondera admitir «outro tipo de obras» a concurso

Álvaro Amaro mostrou «grande satisfação» por presidir à entrega do Prémio Eduardo Lourenço pela primeira vez, considerando a cultura «muito importante como fator de desenvolvimento». O presidente da Câmara da Guarda e membro da direção do CEI defendeu que «temos que passar a ter a ambição de disputar um campeonato diferente do interior desertificado e sem oportunidades mas que reclama igualdade de oportunidades». O autarca salientou que «neste novo ciclo de fundos, onde por ventura se alteram os paradigmas também nós, à dimensão do CEI, entendemos que vale a pena refletirmos como vai ser o novo figurino do Prémio Eduardo Lourenço, continuando sempre a honrar Eduardo Lourenço», mas equacionando «admitir a concurso, porventura alternadamente, outro tipo de obras e de candidaturas que tenham que ver com o território e a coesão do território».

Ricardo Cordeiro Antonio Sáez Delgado considerou Eduardo Lourenço «um Dom Quixote da cultura ibérica»

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