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Um bonito espetáculo

Agora Digo Eu

No passado dia 14 de julho, 200 a 300 pessoas assistiram a “um bonito espetáculo”, no Jardim José de Lemos, oferecido por Álvaro Amaro. Foram apresentados os candidatos aos órgãos autárquicos e o programa eleitoral da coligação “A Guarda com futuro”. Antes desse momento apoteótico, desfilaram pelo palco Júlio Sarmento, Henrique Monteiro, João Prata, Carvalho Rodrigues, João Rebelo e Luís Marques Mendes. Basicamente, todos sublinharam a pobreza dos resultados alcançados pelos socialistas ao fim de 38 anos de reinado e a oportunidade histórica de mudança, protagonizada por Álvaro Amaro.

Às 19h05, Álvaro Amaro subiu ao palco. Humildemente, fez questão de esclarecer os fiéis que não era um “homem providencial” ou um “messias salvador”. É apenas um homem que quer “contrariar o fatalismo”, sem prometer “mundos e fundos” e “megalomanias”. Na Guarda, acusou, têm reinado as “cigarras”, vendedoras de “ilusões”. Eis, pois, um homem humilde, com os pés assentes no chão, uma “formiguinha” que pretende destronar as cigarras pela “arma do voto”. A seguir, apresentou a sua lista de “jovens descomprometidos”, os “novos rostos” prontos a “transportar a esperança”. Aqui, Amaro não exagerou muito. De facto, os elementos que conheço (Carlos Monteiro, Victor Amaral e Henrique Monteiro) são pessoas sérias e trabalhadoras, que não precisam da política para nada. Todavia, os mais céticos dizem que se trata de gente sem peso político e, por consequência, incapaz de acrescentar votos, e, caso Amaro ganhe, estarão condenados a serem meros acólitos do chefe.

Finalmente, as promessas, ou melhor, uma mistura de “compromissos” e “garantias”.

A primeira garantia de Amaro, “nem que não faça mais nada”, é recuperar o Hotel Turismo. Mais garantias: estacionamento na Praça Velha, cobertura da Rua do Comércio, requalificação do mercado municipal, reabertura da pousada da juventude, 50 estágios/ano para jovens, o projeto “Guarda solidária” – comparticipação nas despesas de saúde de “famílias vulneráveis”.

São também vários os compromissos. Aproveitar, finalmente, o “bom ar da Guarda”, criando um cluster “bioclimático”. Organizar a 1.ª feira Ibérica de Turismo. Atrair turistas estrangeiros, arranjando maneira de os isentar de portagens caso passem uma noite na Guarda. Trocar o M por um N no TMG, transformando-o num Teatro Nacional. Baixar o IMI. Criar um “centro de estágios em altitude” e uma academia de desporto. Criar um CEI II (Centro estratégico de investimento), convencendo os guardenses espalhados pelo mundo a investir cá. Colocar seguranças no parque de camiões TIR da PLIE. Criar uma via verde para investimentos de requalificação urbana. Elaborar orçamentos participativos, consultando os cidadãos.

Por fim, sossegou os funcionários camarários. Ele vem para criar empregos, não para os destruir.

Este programa eleitoral tem pouco de original. Amaro limitou-se a repescar velhas ideias e a dar-lhes por vezes novas roupagens. Basicamente, pede que confiemos nele e na sua capacidade de influência política para mexer nas “gavetas” do próximo quadro comunitário, uma nova versão da “magistratura de influência” de má memória de Joaquim Valente.

Foi, de facto, um “espetáculo bonito”. Quem viesse de outra galáxia e tivesse acabado de aterrar no jardim José de Lemos nunca imaginaria que Portugal está a atravessar a pior crise dos últimos 100 anos.

Por: José Carlos Alexandre

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