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Um balanço da campanha

Agora digo eu

A grande novidade destas eleições autárquicas na Guarda foi o movimento “A Guarda Primeiro”. A dimensão inesperada (para alguns) que alcançou deixou algumas hostes partidárias em alvoroço. Verdade que os seus cabeças de lista à Câmara Municipal, Virgílio Bento e Manuel Rodrigues, não eram “verdadeiros independentes”. Todavia, conseguiram juntar à sua volta muitas pessoas que nada tinham a ver com os partidos, pessoas que não estavam ali a pensar nos seus interesses, pessoas genuinamente preocupadas com a Guarda, que não esperavam nada em troca, a não ser, talvez, algum trabalho acrescido e algumas chatices. Não tenho dúvidas de que este tipo de pessoas também existe nas outras candidaturas, mas a percentagem é seguramente mais baixa. A decisão do Tribunal Constitucional não nos deixou saber até onde podia ir “A Guarda Primeiro” mas alguma coisa terá ficado deste exercício de cidadania.

Não exagero ao dizer que Virgílio Bento foi o primeiro candidato a eleger a economia e o emprego como a prioridade número um. Ou que foi ele a trazer a questão do “mundo rural” para o debate, um assunto arrogantemente ignorado durante décadas pelos agentes políticos, num concelho com a tradição agrícola da Guarda. Em finais de maio, ainda andava o Álvaro Amaro nas suas primeiras excursões pela realidade do concelho e o José Igreja já dava sinais de delírios megalómanos, tipo a” Guarda Património Mundial da Humanidade” ou “capital europeia da cultura”, delírios que, pelos vistos, não lhe passaram e que, infelizmente, se foram agravando à medida que a campanha avançava. Dadas as atuais condições financeiras da Câmara, nem vale a pena comentar a extravagância de algumas das promessas dos candidatos. Estes senhores estão parados no tempo, talvez em 2009 ou 2010, e nunca ouviram falar em crise ou, pelo menos, parecem não perceber o seu significado.

Álvaro Amaro trouxe à Guarda alguns baronetes do PSD e do governo, que andam aí pelo país em tournée política, e que sabem tanto da Guarda como eu da produção de azeite, e que se preocupam tanto “com o futuro” da Guarda como eu me preocupo com o futuro do Bangladeche. Já o dr. Igreja desenterrou das catacumbas do PS local Abílio Curto e Maria do Carmo Borges, que juntamente com Joaquim Valente, todos “grandes presidentes” (Igreja dixit), formam a troika que nos conduziu ao atual esplender da Guarda.

Custa ver a Guarda a morrer aos poucos. Os agentes políticos vivem desfasados da realidade, são incapazes de regenerar o tecido socioeconómico porque são incapazes de se autorregenerar. Pelo que se viu nesta campanha, não há grandes motivos para termos esperança num processo autocorretivo. A regeneração só poderá brotar através de uma imposição vinda de fora.

Por: José Carlos Alexandre

Comentários dos nossos leitores
Carlo Veloso cjocas@gmail.com
Comentário:
É tudo muito verdade, crua, muito crua!!! Mas tenho muitas dúvidas que a regeneração venha por alguém de fora!!! Mas de facto, o desfasamento de alguns políticos em relação à realidade é muito, mas muito grande!
 

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