Até 2007, a Espanha cresceu de forma vigorosa. A nona economia do mundo transpirava otimismo e dinheiro. Com o rebentar da crise internacional em 2008, as debilidades ficaram à vista de todos. Crédito barato, um “boom” na construção civil e consumo doméstico eram os motores económicos e não o investimento. O elevado défice externo e o estado comatoso do sistema financeiro – resultado, em grande parte, da ruína das Cajas de Ahorro, saqueadas durante décadas por políticos e sindicalistas sem escrúpulos – auguravam o pior.
O epílogo era pois esperado. Na semana passada, Mariano Rajoy anunciou um duro plano de austeridade, sem precedentes na história recente do país. Rajoy viu-se obrigado, pelas exigências da União Europeia, a contrariar todas as promessas feitas há apenas 7 meses em campanha eleitoral. O objetivo, dizem, é poupar 65 mil milhões de euros nos próximos dois anos e meio, o que implicará sem dúvida pesados sacrifícios para os espanhóis. A Espanha chegou a um ponto em que já não podia escolher entre ficar como estava ou fazer sacrifícios, “no tenemos esa libertad”, declarou dramaticamente o presidente do governo espanhol no congresso de deputados.
Hoje, o problema de Espanha não é o défice, é a falta de crescimento económico. Isto não significa que as chamadas medidas de austeridade não sirvam para nada. Pelo contrário. Servem para baixar uma febre, medida pelo “spread” da dívida espanhola em relação à alemã. Mas a verdadeira doença exige terapias mais radicais ao nível do sistema financeiro, fiscal, segurança social, administração pública, etc. – enfim, uma lengalenga que os portugueses já conhecem por experiência própria.
Tudo isto deve deixar-nos apreensivos. Basta lembrar que Espanha é o destino de ¼ das exportações nacionais. Mas dos factos recentes desta triste história destaco um que pode servir-nos de aviso em relação ao futuro.
No dia 12 de julho, um dia portanto após o anúncio histórico, os mercados não deram sinais de tréguas, tendo a bolsa de Madrid fechado com uma queda de 2,5%. À primeira vista, os mercados demonstraram, uma vez mais, toda a sua irracionalidade ou insensibilidade. Mas, raspando um bocadinho, encontramos um fundo de racionalidade neste comportamento dos investidores. As comunidades, essa invenção ruinosa saída da constituição de 1978, manifestaram publicamente a sua indisponibilidade para cumprir os objetivos em termos de défice. Um sinal claro para o exterior da impotência do governo central em controlar a despesa. Nem as palavras do ministro Montoro pareceram comover muito os presidentes das comunidades: “cómo os oponeis si no tenéis como financiaros?”
Não bastará este exemplo para demonstrar o absurdo da regionalização em Portugal?
Por: José Carlos Alexandre
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