2010 pode ficar marcado por uma autêntica revolução nos cuidados primários de saúde no distrito da Guarda. À semelhança do que está a acontecer com os centros escolares, a Unidade Local de Saúde (ULS) está a estudar a concentração de utentes de uma determinada área geográfica numa única extensão de saúde devidamente equipada com recursos humanos e materiais.
A medida consta do plano de actividades daquele organismo, que reúne os hospitais da Guarda e Seia e a grande maioria dos centros de saúde do distrito, e vai começar a ser discutida com os municípios para ser implementada, ainda que de forma experimental, no próximo ano. «Os autarcas compreendem que esta revolução tem que ser feita», refere Fernando Girão, presidente do Conselho de Administração da ULS, para quem esta será «a forma mais correcta de política de saúde do que a actual pulverização de recursos gerada com as extensões». O ponto de partida é uma constatação óbvia. Em 2001 havia 140 médicos de família espalhados pela antiga Sub-Região de Saúde, agora são apenas 103 que cobrem o sétimo maior distrito do país, onde a baixa densidade populacional se alia a uma elevada taxa de envelhecimento das suas gentes. «Era muito importante encaminhar as pessoas para um centro servido por uma equipa multidisciplinar de médicos, enfermeiros e técnicos para satisfazer as suas necessidades diárias em termos de consultas, exames complementares de diagnóstico ou até para aviar receitas médicas», ilustra Fernando Girão.
A ideia é agrupar cerca de «dois a três mil utentes» de várias aldeias, que se deslocariam graças a uma rede de transportes diários entre a sua freguesia e o dito centro. «Em 2000, quando estava na Sub-Região de Saúde, colocámos uma carrinha a recolher pessoas no Sabugal. Desta vez, a experiência deverá avançar nos concelhos maiores e com menos médicos», acrescenta, adiantando que até já haverá «algum consenso» para avançar com esta reforma. «Mas todos temos a obrigação de ajudar a resolver esta situação. A comunidade e as instituições não se devem alhear dela», avisa. Actualmente, segundo dados da ULS, há apenas sete médicos para os 13 mil utentes inscritos no Centro de Saúde do Sabugal, enquanto na Guarda há oito clínicos com mais de dois mil utentes. «O rácio normal é 1.750 por médico», esclarece o presidente da ULS, considerando que a abertura dos Serviços de Atendimento Permanente (SAP), 24 horas por dia, em todos os centros de saúde «é uma sobrecarga muito grande para os médicos e tem efeitos no ambulatório».
Mesmo assim, Fernando Girão sublinha que a acessibilidade aos serviços de saúde no distrito «é boa, pois não há listas de espera». Já a idade média dos médicos de família da ULS rondará os 53/55 anos (enquanto no Hospital Sousa Martins é de 35/40 anos), sendo que a recente alteração da idade da reforma evitou que «se aposentassem todos ao mesmo tempo». Para o responsável, isto quer dizer que, nos próximos anos, até vai haver «um reforço de médicos de família graças à chegada dos recém-formados», garante, constatando que o «“boom”» de profissionais espanhóis já passou.
Luis Martins