A maternidade da Covilhã já leva vantagem sobre as restantes da Beira Interior, mas apenas nos títulos da imprensa. Após alguma acalmia, estão de regresso as notícias, aparentemente infundadas, sobre a eventual concentração dos partos da Beira Interior no Centro Hospitalar da Cova da Beira (CHCB), na Covilhã. Desta vez foi o “Jornal do Fundão” a assegurar, sem citar qualquer fonte, que a decisão estava tomada por parte da Comissão Técnica de Avaliação e que seria o Hospital Pêro da Covilhã a acolher o único serviço para toda a Beira Interior. Os desmentidos não se fizeram esperar.
A começar por Jorge Branco, visivelmente “exasperado” por ter que desmentir mais «uma falsidade». O presidente da Comissão Técnica de Avaliação negou «liminarmente» que a maternidade do Hospital da Covilhã tenha sido escolhido para servir a Beira Interior. «É o Conselho de Administração do futuro Centro Hospitalar que decide e propõe a solução ao ministro e não a Comissão», esclareceu, acrescentado que a única decisão daquela entidade foi a de «sugerir que os três hospitais da Beira Interior deveriam chegar a um consenso». Uma versão bem diferente da noticiada pelo “Jornal do Fundão”. Na sua última edição, o semanário invocou supostos «parâmetros técnicos e científicos» para a escolha da Covilhã, para além da existência da Faculdade de Medicina e de boas acessibilidades para a Guarda e Castelo Branco. A ser assim, fechariam as maternidades das capitais de distrito, sendo as parturientes encaminhadas para o CHCB, inaugurado em 2000 e a meio caminho pela A23 daqueles hospitais. A manchete caiu que nem uma bomba na Guarda, mas foi rapidamente negada. Fernando Girão, director do Hospital Sousa Martins, foi o primeiro a afirmar que se tratava de uma «mentira», porque «ainda não há qualquer decisão sobre os serviços que vão manter-se na Beira Interior».
O mesmo sustentou Joaquim Valente. O autarca local disse ter «informações da tutela de que nada estava decidido», pelo que estranhou a informação veiculada. «Um órgão de comunicação social com o historial do ‘Jornal do Fundão’ devia confirmar melhor as suas fontes, em vez de publicar notícias falsas e encomendadas que só o descredibilizam junto da opinião pública», criticou. Já Mota da Romana considerou que esta notícia insere-se numa «campanha lamentável e premeditada para fazer crer à opinião pública que a maternidade do Hospital da Covilhã é a melhor da região e que, por isso, será a única que vai manter-se. Mas não é bem assim». Regressado de uma reunião na Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, em Coimbra, o porta-voz do Movimento Cívico adiantou que «tudo está por decidir, mas quem o fará será o Conselho de Administração do futuro Centro Hospitalar da Beira Interior, que nem sequer existe ainda». Isso mesmo recordou Jorge Branco. O especialista acrescentou que esse órgão, que vai gerir os hospitais de Castelo Branco, Covilhã e Guarda, deverá decidir «consensualmente» até 31 de Dezembro onde ficam as duas maternidades que vão servir a região, conforme anunciaram o ministro e o primeiro-ministro há uns meses atrás. Questionado sobre o assunto na última reunião camarária, Carlos Pinto disse desconhecer «mais informações do que as que foram avançadas pelo Jornal do Fundão». «Apenas posso dizer que se assim for, fico feliz», acrescentou o autarca covilhanense.
Comparativamente às vizinhas, a maternidade da Guarda parece ter alguma vantagem em termos de partos realizados e de recursos técnicos e humanos disponíveis. O serviço tem liderado sempre nos nascimentos, registando, por exemplo, 851 partos em 2004 e 838 no ano passado. Já na Covilhã ocorreram 650 e 675, respectivamente, enquanto Castelo Branco realizou 400 e 505. Por outro lado, a Guarda conta actualmente com uma equipa de Urgência Obstétrica completa e é o único serviço do interior que garante assistência em Neonatologia, com a presença de um pediatra em cada parto, dispondo ainda de um anestesista em permanência.
Luis Martins