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Trovoadas

Mitocôndrias e Quasares

Nos últimos dias temos assistido a um tempo bastante incaracterístico para a época do ano em que nos encontramos, afinal, o outono só começou na madrugada de 22 para 23 de setembro. Têm-se destacado as fortes trovoadas acompanhadas de elevada quantidade de precipitação. As trovoadas, dos fenómenos mais temíveis da Natureza, ocorrem todos os dias em cerca de 40.000 localidades diferentes em todo o mundo. As trovoadas formam-se quando as nuvens do género cúmulos continuam a crescer até se desenvolverem completamente na troposfera, formando montanhas de humidade que podem chegar a alcançar mais de 15 km de altura. As condições necessárias para produzir este crescimento fenomenal de nuvens podem ser proporcionadas por uma frente fria. As denominadas condições de instabilidade, em que a temperatura da atmosfera baixa rapidamente com a altitude, também podem ocorrer como resultado da formação de trovoadas.

Uma trovoada típica dura entre uma a duas horas, antes de ser retardada por rajadas descendentes que são acompanhadas pela chuva que daí resulta. As tempestades ocasionais, mais intensas e graves, duram muito mais do que apenas duas horas. Podem ocasionar acessos violentos de relâmpagos e trovões, chuva intensa, granizo e ventos fortes. A maioria das trovoadas apresenta um ciclo de vida em três fases. A fase culminante ocorre quando as nuvens do tipo cúmulo crescem, atingindo por vezes dimensões impressionantes. As correntes de ar ascendente, fortes, impedem a chuva de cair e não se verificam relâmpagos. A segunda fase é a fase madura, quando se formam partículas de gelo na parte superior da nuvem e se tornam suficientemente grandes para gerar precipitação. Formam-se correntes de ar descendentes; o ar fica mais frio, mais turbulento e carregado de eletricidade. Verificam-se relâmpagos e queda de chuva ou talvez de saraiva. Na terceira fase, a tempestade dissipa-se à medida que a precipitação vai criando correntes fracas de ar descendentes que privam a nuvem do seu fornecimento de energia. A nuvem evapora e a tempestade amaina. Esta fase final pode durar até uma hora no máximo.

Os aspetos mais óbvios das trovoadas são, naturalmente, os relâmpagos e os trovões. O mais intrigante é que continuamos a não saber ao certo o que provoca os relâmpagos, mas existem vários fatores que apontam razões prováveis para este fenómeno espetacular. Parece que áreas de carga elétrica oposta se acumulam no interior das nuvens cúmulo-nimbos, em que uma carga positiva tem tendência a reunir-se ao longo dos topos da nuvem e uma carga negativa tende a acumular-se mais perto da base da nuvem. Porque o ar é um condutor de eletricidade fraco, estas cargas continuam a acumular-se até se gerarem diferenças elétricas enormes. Os relâmpagos aquecem o ar a mais de 30.000 ºC, produzindo uma explosão: o trovão.

Por fim, deixo aqui uma metodologia para calcular a distância a que se encontra a trovoada. Visto que a luz se desloca a 299.792 km por segundo, vemos o clarão do relâmpago quase no momento em que ele ocorre. Mas porque o trovão demora três segundos a percorrer um quilómetro, passam-se por vezes vários segundos antes de ouvirmos o seu som. Para estimar a que distância se encontra uma trovoada conte-se o número de segundos entre o momento em que se vê o relâmpago e aquele em que se ouve o trovão. Depois, multiplique-se o número de segundos por 340 (velocidades do som no ar) para poder estimar a distância, em metros, a que está a trovoada.

Por: António Costa

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