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Triste sina

Editorial

1. Muito para além da análise aos resultados estatísticos que vão sendo divulgados sobre o desemprego em Portugal há uma realidade e um problema que afeta milhares de pessoas que não têm trabalho, nem perspetivas de o conseguir nos próximos tempos. Segundo os últimos dados do INE, 14,1 % da população ativa portuguesa está desempregada, mas há quem considere que os valores estão maquilhados ou, pelo menos, haverá muito desemprego escondido por detrás de programas ocupacionais, estágios, cursos e outras formas de ocupar sem empregar (o CES de Boaventura Sousa Santos soma tudo o que não é trabalho efetivo e conclui que o desemprego pode ultrapassar os 29%…). A emigração tem sido uma opção para muitos, mas nem sempre o sucesso lá fora está garantido. E, apesar de haver um clima económico muito mais otimista, a verdade é que depois de meses de descida, o desemprego voltou a aumentar em Portugal.

Se no país a taxa de desemprego é perturbadora, na região a situação é ainda mais alarmante. Segundo o Observatório para o Desenvolvimento Social e Económico (ODES) da UBI, com dados do INE, os concelhos com mais população da Beira Interior têm uma taxa de desemprego muito acima da registada no país. Nos concelhos de Castelo Branco e da Covilhã um quarto da população está desempregada (os dois concelhos têm uma taxa de desemprego de 25%); no concelho da Guarda 18% e no do Fundão 13%. Ou seja, nos quatro concelhos mais populosos e economicamente mais relevantes da região, há 10 mil desempregados. Perante esta realidade perturbadora exigem-se medidas concretas e uma tomada de posição muito clara dos políticos e dirigentes regionais e não apenas os lugares comuns habituais. Não basta falar que a região precisa de incentivos para se desenvolver. Agora já estamos perante um cenário muito mais complexo e urge a tomada de medidas não apenas para contrariar a desertificação mas mesmo para assegurar os meios de sobrevivência aos que não têm trabalho.

2. O encerramento do Hotel de Turismo, há cinco anos, foi das piores notícias que a cidade da Guarda recebeu. A opção da Câmara de então penalizou gravemente a ambição da cidade como destino turístico e evidenciou a falta de estratégia da autarquia num sector relevante como o turismo. É verdade que o seu encerramento se enquadrava num plano muito interessante de investimento e promoção de um hotel-escola com o Turismo de Portugal (que nunca passou do papel), com ambições e que, noutro momento, poderia merecer o entusiasmo generalizado. Acontece, porém, que não há milagres e, como se previa, o Hotel continua sem destino definido e vai agora ser posto à venda.

O elevado investimento necessário na sua requalificação e o facto de a Guarda continuar a ser um destino adiado, em termos de grandes fluxos turísticos, poderá não atrair investidores ou “players” de envergadura que permitam recuperar o sonho da Guarda de ter um grande hotel e ser uma cidade que atrai, mas, seguramente, será o melhor destino nas atuais circunstâncias. Em tempos de crise e à espera de investidores, a triste sina do hotel pode mudar…

Luis Baptista-Martins

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