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Três entrevistas

Agora Digo Eu

Entre 21 e 23 de maio, os três principais candidatos à câmara da Guarda desfilaram na Radio Altitude, num primeiro ciclo de entrevistas.

Todos dizem não poder prometer obras “loucas”, “mirabolantes” ou “mágicas”, o que revela um módico de bom senso. Todos elegem o “investimento”, o “emprego” e a “requalificação urbana” como as grandes prioridades. Todos dão a entender que sabem a que portas hão-de bater para sacar “fundos comunitários” – a única torneira que ainda poderá jorrar num futuro próximo. Todos andam ainda às voltas com as listas para as juntas e a Assembleia Municipal.

José Igreja diz que irá apresentar, durante o mês de junho, a sua equipa e assegura que vai surpreender “pela positiva”. Seria de facto surpreendente se excluísse Carlos Santos, Nuno Almeida e Joaquim Carreira, os seus fiéis camaradas dos últimos tempos. Nos minutos finais da entrevista, deu a conhecer as suas duas grandes bandeiras (segurem-se): candidatar a Guarda a património da humanidade da UNESCO e a capital europeia da cultura.

Com certeza com o intuito de impressionar os indígenas, Álvaro Amaro puxou pelos galões da experiência e brandiu o seu currículo, fazendo questão de mencionar os seus vários “grandes amigos” influentes. Repetiu várias vezes a frase ensaiada: “Eu não sei se o candidato pelo partido socialista sabe isto”, como quem diz, eu, ao contrário do outro senhor, tenho experiência e sei do que falo. Para se defender dos ataques de ser um “candidato do governo” e um forasteiro, declarou o seu amor por esta terra e pelas suas gentes. A prová-lo, lembrou a sua luta pela reflorestação do distrito quando era secretário de estado da agricultura ou, mais recentemente, a sua defesa pública de que a sede da nova comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela fique na Guarda.

Virgílio Bento tem uma ideia clara sobre os “eixos estratégicos”, que considera serem três: a educação e cultura, as suas áreas de eleição, que garante serem hoje “referências nacionais”; a requalificação urbana, onde já mostrou serviço, tendo arranjado 20 milhões em fundos comunitários para a requalificação em curso dos bairros da cidade; por fim, a economia e emprego, que serão a sua grande aposta, assentes na PLIE, na “valorização do que é nosso”, e num triângulo institucional (IPG, Câmara, e Associações Comerciais e Empresariais).

Conclusões? Igreja, para já, surge como o candidato mais mal preparado, revelando pouco conhecimento dos dossiês, o que faz temer o pior caso seja eleito presidente. Álvaro Amaro tem de saber descolar os rótulos de “candidato do governo” e de forasteiro oportunista e de mostrar que é capaz de resgatar a Guarda do “cansaço” e “tristeza” que diz existirem. A Virgílio Bento não basta conhecer a “casa” e “o concelho como a palma das mãos” ou expor ideias mais sistematizadas, tem de resolver um problema (provavelmente insolúvel) de posicionamento: apresentar-se como o fiel depositário da herança socialista e, ao mesmo tempo, como um candidato independente que acusa o seu anterior partido de “não perceber os sinais da sociedade” é um exercício de malabarismo político.

Por: José Carlos Alexandre

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