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Travar o recuo civilizacional

Crónica Política

O sistema capitalista quer sentenciar os povos com o regresso à pobreza e à servidão; à inanição económica, política e cultural. A matriz dos defensores do capitalismo mantém-se incólume na perspetiva ideológica, na prática tentam trilhar o caminho de “lavagem cerebral” que o mundo não pode contemporizar com as exigências relativas à justa distribuição da riqueza, tampouco ser sensível à dotação e reforço de meios que elevem a evolução civilizacional da sociedade, objetivo sempre presente no sonho de gerações inteiras. Os recursos atualmente disponíveis são esgotáveis – dizem aqueles – e a evolução da sociedade, assente no progresso, tem que ser travada.

A solidariedade com os trabalhadores chineses, indianos ou outros, o princípio dos proletários de todo o mundo uni-vos está cada vez mais atual no caminho do acesso a melhores condições de vida e trabalho. O sistema capitalista utiliza as deslocalizações para maximizar os lucros e minimizar direitos laborais. Na Guarda, a deslocalização da produção da Delphi para outras paragens não foi para melhorar as condições de quem trabalha, mas apenas para aumentar o lucro.

É o que está para acontecer aos portugueses: a alienação de património de áreas estratégicas, bem como a continuada destruição da produção nacional, coloca Portugal na rota de uma morte anunciada. A mudança de paradigma em curso, para colocar a “economia” acima de todos os imperativos, imposta pelo sacrossanto diretório europeu, com o seguidismo absurdo e intolerável do Governo PSD/CDS, constitui a negação da própria liberdade e da democracia. Mais, a independência de Portugal, presente e futura, está posta em causa. Esta opção suicida atropela alternativas muito mais viáveis e credíveis. Não foram sufragadas pelo povo as opções tomadas por este Governo, em sede de Orçamento de Estado para 2012, de privatização de áreas estratégicas e fundamentais, uma delas, um recurso esgotável e imprescindível para a vida – a água. Trabalhadores, sejam do privado ou público, jovens, estudantes e reformados não foram consultados sobre esta escolha que altera prejudicialmente as suas vidas. Apenas foram ouvidos os responsáveis pelo fracasso das políticas dos últimos 35 anos, bem como os que lucraram com os erros da governação que atirou o país para o festim usurário de oportunistas nacionais e estrangeiros.

E já nos baila no espírito a certeza de que nenhum sairá responsabilizado criminalmente ou condenado. É este o sentido de “justiça” que impera no nosso Portugal, cada vez mais afastado das largas avenidas que Abril rasgou. Os reformados não podem aceitar que, depois de uma vida de trabalho e esforço contributivo, deixem de ver cumpridas as obrigações que o país tem para com eles; os trabalhadores, que erguem e sustentam o país, não podem aceitar que lhes alterem estruturalmente a vida, lhes roubem direitos conquistados; os jovens, que são emparedados no ontem e veem morrer o amanhã, não podem tolerar que façam deles assunto com legenda sine die, carregando a braçadeira odiosa da precariedade e, mais grave, a limitação no acesso e permanência no ensino superior em situações dignas. A insensibilidade capitalista é revoltante!

Calar e consentir não são caminhos promissores. Tudo pode ainda ser diferente. Sem medos nem hesitações, precisamos de agarrar a oportunidade que ainda temos para lutar, repondo o país no rumo da justiça e do equilíbrio. Para bem de todos!

A greve geral não pode ser apenas um grito lancinante de desespero e raiva! Ela terá que significar muito mais que isso: tem que ser a retoma do compromisso da solidariedade geracional, o ressurgir de um modelo para a construção de um país assente na solidariedade e na responsabilidade, onde todos se sintam incluídos.

É possível fazermos de Portugal um país com futuro para todos, especialmente para os nossos jovens. Muitos proclamam que os jovens são o futuro de Portugal, no entanto não vejo que cada um faça o que lhe compete, por uma sociedade fraterna e mais justa. O caminho da luta não poderá ser apenas de alguns, juntos somos mais no caminho de travar o recuo civilizacional.

Por: Honorato Robalo

* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP

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