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Trancoso: o concelho que resiste

Editorial – Suplemento

Criada em 8 de agosto de 1273, a Feira de São Bartolomeu desde cedo se afirmou como uma das mais importantes feiras francas da região e, com o passar dos séculos, uma das mais relevantes feiras anuais portuguesas.

A origem medieval dá-lhe pedigree e estatuto, mas é a qualidade intrínseca, a organização, a audácia e a ambição que a afirmam como um evento maior. Se outrora mereceu o destaque de uma das «maiores das beiras», hoje é, com diferença, a mais relevante feira lúdica e de atividades económicas do distrito da Guarda. Estandarte de Trancoso, a Feira é o catalisador de energias e fomento, é o dínamo económico, a alavanca cultural e social da cidade.

A terra de Bandarra não vive do passado. Tem presente e augura-se um futuro de crescimento. Em contraste com a realidade da região… Também por isso, Trancoso conseguiu resistir nos últimos censos e foi juntamente com o concelho da Guarda o único a perder menos de dez por cento da sua população, o que, num distrito que viu partir 20 mil habitantes e foi o único distrito em Portugal onde todos os concelhos perderam população, é extraordinário.

Trancoso apostou há alguns anos na recuperação do património histórico, na valorização da sua história, no equilíbrio do seu desenvolvimento. Hoje, percebe-se a importância de tal decisão. Tranquilamente, e quase sem se dar por isso, vai-se transformando num dos poucos polos de desenvolvimento do distrito da Guarda. Trancoso tem um património histórico-arquitetónico único; uma escola profissional dinâmica; um pavilhão multiusos com o volume necessário; uma feira de gado singular; uma zona de comércio tradicional de fazer inveja a muitos meios urbanos; algumas empresas e serviços que garantem a sustentabilidade e mesmo prosperidade da cidade. E serve de motor num concelho que vai resistindo ao êxodo rural, mas onde pequenas empresas, com negócios diversificados vão florindo – os enchidos e o fumeiro que se vende nas melhores lojas do país (e até no estrangeiro, com a “Casa da Prisca” a liderar a internacionalização), os vinhos de Vila Franca das Naves que, para além do bom frisante da “Beira Serra”, ganha medalhas de ouro com uma “Boa Pergunta”; os melhores queijos da Serra da Estrela que se produzem nas encostas de Freches; o queijo curado “Vale do Côa” de Vila Franca das Naves; a arte de Maria Lino, no Feital; a exportação de pedra, de caixilhos de alumínio, de madeira e carpintaria; as compotas, a castanha, a maça, o azeite… Um concelho que resiste. Um concelho onde ainda há esperança, numa região dilacerada e moribunda, pelo regresso da pobreza e pela fuga dos seus filhos. Trancoso tem de acreditar, mesmo quando tudo sucumbe à sua volta…

Luís Baptista-Martins

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