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Trancoso de “cara lavada” para cativar turistas

Arquitecto Gonçalo Byrne fez pré-apresentação do Plano de Acções no âmbito do Programa Aldeias Históricas, orçado em 2,5 milhões de euros

«Aumentar o tempo de permanência dos visitantes é fundamental no turismo cultural». Quem o diz é Gonçalo Byrne, arquitecto responsável pela elaboração do Plano de Acções do Programa Aldeias Históricas em Trancoso, cuja pré-apresentação decorreu na semana passada. Cerca de dois milhões e meio de euros (500 mil contos) é a verba de que dispõe a vila de Bandarra para ficar mais atractiva aos turistas. Os trabalhos deverão arrancar em meados do próximo ano.

O plano vai agora ser formalmente apresentado à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), para depois ir à próxima unidade de gestão, que deverá realizar-se em Janeiro, espera o autarca Júlio Sarmento. «Só depois da CCDRC aprovar o plano é que teremos possibilidade de começar a obra e os particulares passarem a usufruir deste sistema de incentivos e de começarem a fazer as suas candidaturas», o que deverá acontecer até ao final da primeira metade de 2004, explica. Byrne, que se autodenomina como «beirão de adopção», considera importante «valorizar o turismo de carácter cultural», vertente na qual Trancoso tem um grande potencial, considera o arquitecto. Neste sentido, «é fundamental que os pontos a visitar não sejam visitados instantaneamente», ou seja, é preciso criar condições e estímulos para que os turistas sintam vontade em permanecer na vila. O Plano de Acções do Programa Aldeias Históricas é tido como uma «oportunidade» para se fazer um «investimento interessante numa requalificação urbana que visa fundamentalmente valorizar e tornar mais visível» uma herança histórica «riquíssima» e que «felizmente chegou até nós em bom estado», realça Gonçalo Byrne.

Entre as várias propostas apresentadas, contam-se a recuperação das fachadas, vãos e limpeza de pinturas nas Portas d’ El Rei, que marcam a entrada para o Centro Histórico. Outro objectivo para esta mesma zona é a adopção de regras para se valorizarem as fachadas e «tentar reduzir elementos descaracterizadores», como publicidades, aparelhos de ar condicionado ou antenas. Desta forma, na Rua da Corredoura e noutras artérias serão feitas algumas intervenções que «visam renovar as infraestruturas enterradas», já que existem algumas estruturas aéreas, como cabos de telefones, que «podem perfeitamente funcionar enterrados», sublinha Byrne. A Rua dos Cavaleiros, «uma das estruturas medievais mais importantes da vila», vai ser valorizada através de «operações que ainda não estão muito estudadas», mas que visam essencialmente «dar visibilidade» à construção medieval daquela artéria. A definição de percursos pedonais que contemplem passagens pelas «zonas que pensamos mais importantes do ponto de vista da visita» é outra possibilidade. A criação de um museu-posto de informação turística no local actualmente ocupado pela GNR é outro dos projectos previstos.

Byrne, que Sarmento considera «um dos grandes nomes da arquitectura portuguesa», adianta que irá tratar-se de um «centro interpretativo da história de Trancoso, onde serão fornecidas informações e roteiros possíveis aos visitantes». Entre as diferentes valências do futuro museu contam-se uma galeria de exposições, um pequeno centro artístico, um pequeno auditório, para além de uma biblioteca e de uma loja com produtos ligados aos museus. Os trabalhos vão ter lugar no «núcleo fundamental» de Trancoso que deverá «ganhar valências de permanência de umas largas horas e não de uma visita rápida», espera. Previstas estão também a requalificação do palácio de Trancoso, como «eventual unidade hoteleira», e a revalorização da judiaria. Dos 2,5 milhões de euros, cerca de 500 mil vão ser gastos pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) no Castelo de Trancoso, estando programadas a revalorização e revitalização de toda a zona da porta de entrada. No interior proceder-se-á à requalificação do espaço, uma actividade que será acompanhada por um trabalho de prospecção arqueológica. Uma hipótese colocada «mais recentemente», mas que pode ser «extremamente importante», diz respeito a «revalorização» do campo da batalha de Trancoso, que, pela sua localização em relação ao núcleo histórico, poderá permitir outro tipo de valências que «podem ser interessantes no sentido de aumentar o tempo de permanência dos visitantes», completa Gonçalo Byrne.

Ricardo Cordeiro

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