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Trabalhem, que do trabalho tudo vem!*

Hoje tive a noção exacta de me encontrar numa verdadeira cidade. E vejam só, na realidade só estava em Trancoso, vila medieval que, apesar dos esforços dos que nos representam, não passará nunca disso.

Passo a contar o que me aconteceu: vindo a sair de um mini-mercado conhecido, qual não é o meu espanto que deparo com um “monte” de mulheres desocupadas a pedir ajuda para as famílias carenciadas de Trancoso. Inclusive uma delas diz-me que é também para pessoas que estão nos lares. Ora, que eu saiba, as famílias carenciadas são todas do conhecimento das nossas assistentes sociais que, se desempenharam bem o seu papel em função dos seus vencimentos, as encaminharão e apoiarão como devem. As senhoras que estão nos lares, já estão protegidas pelos mesmos e, ou os familiares pagam ou elas próprias disponibilizam as suas pensões com os quais cobrem parte das suas despesas. Que novidade é esta agora? Não são atribuídos os subsídios de desemprego, os rendimentos mínimos, os apoios às escolas, o transporte para os filhos e mais não sei quantas ajudas? Ainda se pede a quem muitas vezes tem as suas dificuldades (envergonhadas) ajuda para os carenciados? Como é possível que autorizem semelhante desaforo? É certo que só dá quem quer! Mas os portugueses são assim mesmo! Podem ter a sua miséria, passar mal em casa, mas têm que mostrar aos outros que tudo está bem. Não podem ver uma mão estendida à caridade, mas se possível tratam mal o pai, a mãe e quase sempre os próprios filhos. Será que isto não pára? É tempo de dizer chega! Haja vergonha! Não há um pedaço de terra que se trate a não ser os velhos que mal se podem arrastar. Não se vê ninguém num campo, a tratar, a lavrar, a deitar umas sementes à terra. Dizem depois que são carenciados. Trabalhem, que do trabalho tudo vem! Estou desiludida com o meu país. Foi grande quando teve gente grande. Não só no tamanho mas em valores (Honra, Brio, Perseverança, Coragem, etc.) Para onde foi tudo isto? Pergunto-me e não obtenho resposta. (…)

Se ser carenciado é esperar em casa sem qualquer tipo de esforço o que me for dado, aí eu também sou carenciada.

Zelinda Rente, Freches (Trancoso)

*Título da responsabilidade da redacção

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