P- É a primeira mulher na reitoria da Universidade da Beira Interior. Como se sente?
R-Como mulher, sinto-me bem. Na Reitoria da UBI não me parece que seja um aspecto relevante o facto de ser mulher. Aliás, há várias reitorias portuguesas com colaborações femininas e há importantes contribuições de mulheres na universidade portuguesa extra-reitorias.
P- Que contributos irá dar na área para a qual foi nomeada: Promoção para a qualidade no ensino e aprendizagem e pela melhoria do sucesso escolar?
R-Trabalharei essencialmente para a mudança de atitudes no processo de ensino-aprendizagem, com a colaboração indispensável de todos os envolvidos no processo.
A resolução de problemas é uma competência fundamental em Ciência e Tecnologia e o aluno adquire-a resolvendo vários problemas bem seleccionados pelo docente. Mas tem de ser o aluno a interpretar bem os dados, a procurar uma boa modelação e a escolher a ferramenta adequada para encontrar a solução exacta ou aproximada. O professor pode corrigir e orientar com problemas análogos ou casos particulares, mas se o resolver para o aluno copiar então todo o processo de aprendizagem e de descoberta ficou arruinado. Também é preciso deixar claro que resolver problemas não é, em geral, nem rápido nem fácil e exige o conhecimento prévio de matérias. Ensinar a aprender pode ser simplesmente partilhar o nosso processo de aprendizagem e não expor magistralmente o que já sabemos. Na Matemática, por exemplo, só se aprende “fazendo”. Na minha experiência pessoal de aluna tive professores de Matemática que me proporcionaram excelentes sistematizações das matérias, nos diferentes ciclos, mas saía da aula sempre com a necessidade de fazer a minha sistematização e prática pessoais. Só assim se ganha confiança para mais tarde pegarmos em assuntos novos e produzirmos resultados de I&D.
P-Há actividades pensadas nessas áreas ao longo do mandato?
R-Os exemplos bem sucedidos das metodologias seguidas em Medicina e em várias disciplinas de outras Licenciaturas são um ponto de partida fundamental. O levantamento das práticas actuais, a discussão sobre as melhores estratégias pelas comissões de curso e a disponibilização de acções de formação prática são pequenos passos seguintes. A avaliação de resultados terá que nos ir guiando continuamente.
P-Qual o objectivo das jornadas de avaliação que decorreram segunda-feira?
R-As Jornadas de Avaliação são momentos de exposição dos balanços e reptos decorrentes de processos de auto-avaliação e avaliação externa prévios. Aí se expõem pontos fortes e fracos das diversas licenciaturas e nestas VII Jornadas contámos também com a perspectiva dos alunos. Ao conjunto de conferencistas convidados (docentes e representantes de ordens profissionais) foi proposto que nos apresentassem a sua reflexão sobre os desafios da sociedade do conhecimento, realçando a aprendizagem e a aquisição de competências, aspectos actualmente muito questionados no âmbito das intenções europeias para o ensino graduado e pós-graduado.
P-Como está a implementação do Processo de Bolonha na UBI?
R- O mais importante do conjunto de intenções europeias conhecido como Declaração de Bolonha é uma trivialidade: o fundamental para a aquisição de competências é o esforço contínuo do aluno na aprendizagem. Mas esta trivialidade pressupõe uma mudança de atitudes e hábitos de trabalho em todos os ciclos de escolaridade. Envolve as famílias e a valorização precoce do esforço pessoal na aquisição do conhecimento, e medidas governamentais para acabar com o abandono escolar e a saída precoce da escola. O verdadeiro desafio destas reformas não são a implementação de um sistema de créditos europeu (famosos ECTS) para uma maior mobilidade e transparência, mas sim a mudança de mentalidades nos países do sul da Europa. A UBI tem uma comissão especializada para a implementação de reformas no âmbito do desafio de Bolonha mas não está à espera da definição final dos cumprimentos dos ciclos de graduação e pós-graduação para se pôr em acção. Reformulámos já a metodologia de algumas disciplinas de tradicional insucesso no sentido da maior valorização do trabalho contínuo do aluno e uma maior monotorização dos seus progressos de aprendizagem através da realização de mini-testes de 15 em 15 dias. Só podemos orientar os alunos na sistematização de conteúdos e nas aplicações práticas se estes estiverem em contacto connosco na sala de aula ou noutro espaço de aprendizagem. Não queremos que o aluno seja um número numa folha de exame final.