A maioria dos 190 trabalhadores da Gartêxtil deu segunda-feira início ao processo de falência da fábrica de confecção da Guarda-Gare, encerrada desde Maio de 2002. Com a rescisão dos contratos de trabalho, os funcionários vão poder reclamar os créditos em dívida e requerer o Fundo de Garantia Salarial. Num plenário ainda marcado por muitas incertezas e o descontentamento generalizado dos presentes pelo facto da empresa não ter sido investigada, ficou também decidido que a chave do edifício vai ser entregue ao Governador Civil no próximo dia 17, data do último plenário. «É o princípio do fim», assegurou Carlos João.
Como já era esperado, a última semana não trouxe novidades ao já longo fecho da fábrica e, em dia de decisões, o coordenador do Sindicato Têxtil da Beira Alta (STBA) confirmou o que todos esperavam. «Como não há outro caminho para vocês receberem, vamos para a falência», começou por dizer, não sem antes responsabilizar os deputados eleitos pelo círculo da Guarda pelo impasse vivido na Avenida de S. Miguel nos últimos dois anos. «Foram uma treta, pois podiam ter feito mais pela Gartêxtil e não o fizeram. Abandonaram-vos à vossa sorte e esqueceram-se de vós muito depressa», sentenciou Carlos João, recordando terem sido inviabilizadas quatro propostas para recuperar a empresa. O sindicalista informou ainda os presentes, muitos dos quais já não beneficiam do subsídio de desemprego ou estão à beira de o perder – que o actual Governo recusou prolongar a sua situação no Centro de Emprego até à rescisão dos contratos e a concessão de um regime especial, como aconteceu durante o tempo do PS. «Se assim fosse, todos teriam direito a mais 45 meses de desemprego depois do dia 17. Mas o actual Governo não quis dar-vos isso», denunciou.
Perdidos estarão também os salários em atraso, não havendo ainda garantias de que os trabalhadores possam receber o Fundo de Garantia Social. Nesse sentido, o sindicalista apelou a um reforço desse meio de apoio, porque «infelizmente, fecham empresas todos os dias». Um cenário que avivou ainda mais as dúvidas dos presentes. Joaquim Monteiro não escondeu a revolta por este desfecho: «Acho que as indemnizações não vão ser compensatórias, porque enquanto isto for Gartêxtil ninguém lhe dá valor. Só quando passar para as mãos de uma imobiliária é que o terá. Portugal é um país de abutres, pois a democracia e os direitos não são para todos», desabafou, dizendo ser preferível não assinar. «Era bom que a Judiciária passasse também a investigar as empresas que continuam a roubar os trabalhadores e o país», desafiou. Uma opinião partilhada por outra trabalhadora, para quem a Gartêxtil deve ser investigada «até ao fundo». Só depois disso é que está disposta a assinar o pedido de falência. Ao seu lado, um companheiro lamentou que este era o primeiro passo para que o património da empresa fosse entregue de «mão beijada aos oportunistas que vivem do mal dos outros».
A esse propósito, Carlos João voltou a sugerir a alteração do PDM naquele local, pois o valor da empresa será «muito superior ao que pode valer hoje e vocês poderão ganhar mais». De resto, o coordenador sindical também estranha que os sucessivos pedidos de investigação formulados pelo STBA, apoiados num abaixo-assinado com 4.500 assinaturas, não tenham tido efeito. «Se essas assinaturas não tiveram peso para que o Governo fizesse ou apelasse a essa investigação, o sindicato também não pode fazer mais», garante, acrescentando que nada foi comunicado ao Ministério Público, mas que este «devia fazer essa investigação pelo conhecimento público que tem das coisas. Era sempre benéfica para todos», garante.
Luis Martins