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Trabalhadores da Gartêxtil adiam marcha lenta no IP5 para dia 19

O protesto foi protelado devido ao período de férias, mas Carlos João garante que outras formas de luta se seguirão caso não surja uma solução

No próximo dia 19, os cerca de 190 trabalhadores da Gartêxtil vão mesmo sair à rua e realizar uma marcha lenta no IP5, entre a Guarda e Vilar Formoso. A iniciativa estava marcada para amanhã, mas «como ainda estamos num período de férias», o Sindicato Têxtil da Beira Alta (STBA) decidiu, em conjunto com os trabalhadores, reunidos em plenário na última segunda-feira, adiar o protesto. «É preciso ter gente suficiente para que se possa tomar uma decisão séria na empresa e sem os trabalhadores não podemos», explicou Carlos João, dirigente do STBA, defendendo que o dia 19 é «o ideal para dar a possibilidade de se unirem todos os trabalhadores e quem pode ajudar a resolver o problema». De facto, a situação da empresa de confecções da Guarda-Gare continua por resolver há mais de um ano, o que tem motivado alguma revolta por parte dos intervenientes que, desde Maio de 2002, não sabem onde e como vai ser o seu futuro. São diversas as formas de luta já adoptadas pelos 190 trabalhadores, mas ainda sem qualquer resposta positiva de quem de direito. Daí terem decidido “ocupar” o Itinerário Principal 5 para «sensibilizar» os muitos emigrantes que nessa altura ainda circulam numa das principais portas de entrada do país e «alertar para a falta de condições para se trabalhar em Portugal». Carlos João reconhece que esta acção vai penalizar muita gente, «pessoas que nem têm nada a ver com o assunto, mas, infelizmente, no nosso país estamos habituados a que para resolver um problema seja preciso haver prejuízo de outros, por isso não abdicamos da marcha lenta», avisa o sindicalista. E vai mais longe, garantindo que as diversas formas de luta vão continuar e que futuramente serão anunciados novos protestos: «No final de cada acção iremos anunciar outra porque os trabalhadores não estão desanimados, apenas um pouco desmotivados, mas ainda com força para lutar porque é preciso uma solução», indica Carlos João, para quem este é o modo dos trabalhadores mostrarem às autoridades, ao Governo e a «quem pode decidir que tem que haver uma solução».

Todavia, os trabalhadores que participaram no plenário da última segunda-feira já deram alguns sinais de que não irão lutar por uma causa que parece perdida. Tanto assim que a direcção do STBA acabou por reconhecer que a marcha lenta implica gastos de combustível, tendo, de resto, proposto que os participantes não paguem quotas sindicais nos próximos quatro meses. A grande maioria das pessoas está no desemprego, enquanto outras vivem uma situação indefinida depois de terem suspendido o contrato de trabalho na esperança de que algumas promessas se cumprissem. A verdade é que pouco ou nada mudou. Carlos João considera que os trabalhadores da Gartêxtil andam «a ser enganados há muito tempo», lembrando as várias propostas de aquisição por outras empresas que nunca chegaram a concretizar-se.

Farto de «ilusões» e «mentiras», o sindicalista pede agora a quem pode tomar a decisão que diga aos trabalhadores se a empresa tem ou não condições de voltar a laborar. «Se tem, muito bem, se não tem que o digam», exige, chegando mesmo a “pedir contas” não só à Caixa Geral de Depósitos, principal credora da Gartêxtil, como à deputada do PSD na Assembleia da República, Ana Manso, recordando que, em Agosto do ano passado, «alguém com responsabilidade disse na comunicação social local que a empresa ia abrir, em principio, em Setembro. Mas já passou um ano e não abriu». Por isso, entende que «essas pessoas deviam empenhar-se junto dos trabalhadores e pressionarem o Governo e a CGD para que a empresa tenha um rumo». No entanto, a situação da fábrica da Guarda-Gare continua indefinida e o que tem valido aos cerca de 190 trabalhadores é o subsídio de desemprego, mas esse também não vai durar sempre. Carlos João avisa desde já que a vida destas pessoas irá complicar-se «muito mais», quando num «futuro próximo» deixarem de receber essa ajuda.

Rita Lopes

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