Nicolás Maduro, o presidente da Venezuela, decidiu que o Natal na república bolivariana vai ser em Novembro. Como os socialistas revolucionários acreditam que a religião é o ópio do povo, é provável que o sucessor de Chávez queira ver os seus compatriotas drogados antes de Dezembro.
Mas não se julgue que a antecipação do Natal é uma excentricidade latino-americana. Quem passeie pelas ruas de comércio das cidades portuguesas terá com certeza a ideia que o Natal lusitano começa em Outubro.
O principal problema para o novo Natal na Venezuela será a distribuição das prendas. Se Maduro não tiver ainda nacionalizado a pequena fábrica nórdica do Pai Natal, tem de contar que os duendes natalícios são fortemente sindicalizados e trabalham com o sistema japonês do just in time. Além disso, os duendes não têm o mesmo fascínio de José Sócrates e Mário Soares por revoluções populistas em nome dos pobres. As histórias infantis provam à saciedade que duendes e fadas têm uma visão assistencialista da realidade. A fada madrinha da Cinderela fez tudo para a levar ao baile e conhecer o príncipe para casar com ele, não derrubou a monarquia. A fada promoveu a mobilidade social de uma pessoa, não acabou com as classes sociais para todos.
Ao antecipar o Natal, Nicolás Maduro está a relativizar o nascimento de Jesus Cristo, que a hermenêutica etnográfica pós-moderna popularizou no ditado português “o Natal é quando um homem quiser”. Só que no caso venezuelano a narrativa natalícia é uma determinação estatal. E na América Latina toda a gente sabe que o Estado é Maduro, o Natal é que é verde.
Por: Nuno Amaral Jerónimo