Perfil:
– Fernando Matos
– Director do Parque Natural da Serra da Estrela
– Idade: 48 anos
– Naturalidade: Penela da Beira, Penedono
– Profissão: Engenheiro Zootécnico
– Hobbies: Serra da Estrela, o parque Natural e Desporto
P –Portugal tem sido varrido por um mar de chamas. Que leitura faz destes fogos?
R – Eu penso que todos nós, e tem sido dito por quase toda a gente, sabemos quais são os factores que contribuíram para este mar de chamas. De facto, se calhar há uma falta de ordenamento e de absentismo dos proprietários. Eu penso que todos nós somos um pouco culpados. Nisto eu também me incluo, visto que todos conhecemos a origem destes incêndios. Agora temos que partir para um correcto ordenamento da floresta.
P – O que é que falha na região e o que é que era preciso fazer para evitar no futuro este tipo de catástrofe?
R – A correcta plantação das espécies autóctones, se calhar com clareiras. Não digo que não seriam também espécies resinosas, mas haver uma compartimentação da floresta. É claro que isto não passa somente pelos técnicos do parque, mas por uma equipa multidisciplinar que poderia efectuar esse trabalho.
P – Essa equipa multidisciplinar deveria ser composta por quem?
R – Não é a mim que compete fazer a selecção dos membros. Mas seria composta, entre outros, por membros da Direcção Regional da Agricultura. No entanto, devem ser ouvidos também os técnicos de outras áreas, nomeadamente do ambiente já que a floresta é um recurso natural.
P – Acredita que de agora em diante as entidades competentes e a população adoptarão outra consciência para a prevenção de fogos florestais?
R – Eu penso que todos nós temos que adoptar outra consciência, porque senão daqui a 20 ou 30 anos estamos a chorar exactamente a mesma coisa.
P – Acha que houve má coordenação de meios físicos e humanos na região?
R – Não sei se houve má coordenação ou não de meios. Penso que os bombeiros, sapadores florestais e até a própria população com o caos que se verificou estavam de tal maneira que era impossível fazer melhor. Acho que é uma análise que terá que ser feita quando os fogos estiverem mais calmos.
P – Qual o impacto do fogo que atingiu a reserva biogenética no Parque Natural?
R – É extremamente relevante, se calhar até mesmo catastrófico. Não sei se é irrecuperável. Vamos tentar fazer uma monitorização diária, até porque grande parte da área ardida está incluída no projecto “Life” que estamos a desenvolver em parceria com a Associação Protectora do Paúl. Esperemos que os danos não sejam irreparáveis, mas temos que fazer uma monitorização extremamente bem feita para ver como é que reagem as espécies e se muitas delas aí existentes ainda podem sobreviver.
P – O PNSE vai adoptar algum tipo de medidas preventivas a partir de agora?
R – Vai continuar com elas, aquilo que temos é aquilo com que temos que contar. Ainda na passada segunda feira liguei, já cerca da meia-noite, para o presidente do ICN (Instituto de Conservação da Natureza) numa tentativa de sensibilizar a tutela para ver se há possibilidade de envolver mais meios de vigilância e de prevenção e também para fazer rescaldos. É o caso dos militares que se estiverem libertos para fazerem acções de rescaldos, libertam os meus homens para mais acções de vigilância e prevenção.