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Testemunhas

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Em 1884, Charles Taze Russell fundou a Sociedade Torre de Vigia que se tornou a corporação legal usada pelos Estudantes Internacionais da Bíblia, o nome anterior das Testemunhas de Jeová.

Falo delas a propósito de quê? Falo da intolerância dos homens vulgares, da intolerância dos cruzados da banalidade, dos tenentes da doutrina do dia comum. Parece-me chocante o volume de vezes que discuti sobre o direito das pessoas à sua diferença. As testemunhas de Jeová são como muitos outros crentes em balizadas ideias e princípios e, como muitos outros, pautam suas vidas por regras rígidas que são eliminadoras de quem os segue. Não se é testemunha “mais ou menos”, ou “não praticante”. É-se e pronto. Neste discurso minoritário ganham-se inimigos e exclusões. Assim, a crença de que o sangue não deve sair do contacto do corpo tem-lhes trazido mil agruras. Médicos que se recusam a tratar as testemunhas são às dezenas e a sua intolerância é às toneladas.

Eles crêem em suas verdades e os médicos têm suas “guidelines” não menos intolerantes. O conflito agudizou-se tanto que a Ordem dos Médicos forçou uma nota de recomendação que obriga o médico a procurar uma solução para a testemunha dentro dos seus padrões e crenças, a que tem direito.

A liberdade de escolha e a obrigação de tratar estavam aqui em confronto e ganhou a tolerância dos que percebem que para tratar não há limites e sim um leque de alternativas que obrigam a mais conhecimento e mais procura. Assim se fortalece a ciência e se desmembra a intolerância do cientista de pacotilha que existe dentro de alguns médicos.

Hoje, a intolerância ou a crença das testemunhas acarreta uma mais-valia ao conhecimento médico e um caminho generalizado de recusa ou de contenção na posição de transfundir, que antes parecia inócua. Não é inócuo e hoje o cientista sabe que a opção melhor é evitar, ou prevenir a transfusão total ou parcial. Claro que há sempre fronteiras de fio de navalha, de limite, que alimentarão as discussões e as intolerâncias, mas, até ver, as testemunhas de Jeová galgavam o caminho certo por razões que só a Deus pertencem.

Por: Diogo Cabrita

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