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«Temos um forte empenho na criação de condições favoráveis ao desenvolvimento das empresas»

Entrevista a José Couto, Presidente do CEC/CCIC – Conselho Empresarial do Centro/Câmara de Comércio e Industria do Centro

P – Para quem não conhece o organismo, pode explicar-nos qual é a missão do Conselho Empresarial do Centro (CEC)?

R – O CEC, além de Câmara de Comércio e Indústria do Centro, é uma união de 40 Associações Empresariais da Região Centro, que congrega mais de 42.000 empresas e que foi constituída, por vontade dos empresários, para afirmar o Centro de Portugal, representando e defendendo as Empresas e as Associações Empresariais dos Distritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu.

P – Que tipo de apoio dão aos empresários e às associações empresariais que fazem parte do CEC?

R – Acima de tudo, efectuamos um esforço de defesa, procurando, nos assuntos estratégicos representar os interesses das nossas empresas. Temos também um forte empenho na criação de condições favoráveis ao desenvolvimento das empresas, facilitando o seu relacionamento com as demais entidades da envolvente empresarial e, claro, apoiamos as empresas através dos serviços que uma Câmara de Comércio e Indústria presta normalmente, nomeadamente nas áreas da informação ou da internacionalização, o que passa pela emissão de documentos legais, como certificados de origem ou de venda livre, ou em serviços concretos como procura de parceiros, presença em feiras, etc… Acresce todo o manancial que decorre do facto de sermos uma rede Associativa, pelo que disponibilizamos todas as competências que a rede de associações detém, nomeadamente na formação, na higiene, medicina e segurança, na consultoria, na assistência jurídica, no apoio no acesso a financiamentos, etc… A rede Associativa do CEC é única no País, e a agregação das suas competências e dos seus recursos tornam a sua oferta de valor para as empresas extremamente competitiva e eficiente. Existe ainda um domínio em que nos empenhamos de sobremaneira, a qualificação dos empresários e dos seus colaboradores, nomeadamente através do Programa de Formação-Acção QI PME particularmente orientado para o reforço de competências das empresas e dos seus quadros e dirigentes que tem tido um desempenho muito bom. Neste programa o CEC assume as funções de organismo intermédio e as Associações, em que a AENEBEIRA se inclui, tiveram já oportunidade de intervir em mais de 700 empresas, várias dezenas delas de Trancoso, com um sucesso assinalável, mais de 9 em cada dez empresários que participaram na formação não só a recomendariam a outros, como a fariam novamente, o que diz bem do impacto positivo desta acção. Ainda em 2013 mais 400 empresas irão ter a possibilidade de beneficiar do programa QI PME Centro de formação acção. Numa altura em que a sobrevivência e desenvolvimento das nossas empresas dependem cada vez mais da nossa capacidade de incorporar conhecimento e competências no reforço da sua capacidade concorrencial, esta é uma oportunidade que ninguém deve desperdiçar…

P – Como vê o futuro próximo do movimento associativo e os seus contributos para o desenvolvimento das empresas?

R – Na região Centro existe uma rede não homogénea de Associações Empresariais, associando zonas e sectores com coberturas sobrepostas com áreas onde a representação associativa é ainda incipiente. Verifica-se a existência de um conjunto de Associações com características, actuações tipo e número de associados e estrutura económica muito diferenciadas, mas enfrentando dois desafios comuns, a sustentabilidade e a representatividade. Em simultâneo, está a preparar-se uma grande alteração no modelo de organização administrativa do País, com a aposta centrada na dimensão Nut III, passando por essa via para as Comunidades Intermunicipais, nos próximos anos, a escala tipo de agregação, e a dinamização de políticas de desenvolvimento local/regional, o que influi na envolvente, em especial na envolvente empresarial – logo na organização associativa. No CEC, em conjunto com as Associações, estamos por isso a trilhar um caminho de evolução que seja capaz de garantir representatividade, sustentabilidade e força institucional, bem como capilaridade, proximidade e capacidade de resposta local às empresas. A lógica territorial assume agora uma importância central, e a dimensão da intervenção terá de ser adequada às novas Nut III que deixam de ser 12 para serem 8 no Centro, o que implicará formatos de colaboração e agregação entre as Associações que garantam a cobertura de todas as empresas e a coerência geográfica com as unidades territoriais. É uma mudança profunda, talvez a maior de sempre que o movimento associativo já enfrentou no nosso país nas últimas quatro décadas, mas estou certo que desta mudança as empresas e suas estruturas associativas sairão reforçadas, com uma rede associativa capaz de dar mais garantias de defesa e representação das empresas, que diminuirá as sobreposições, duplicações e concorrências associativas, promovendo um modelo operacional, eficiente, representativo e inclusivo que reforçando a capacidade de prestação de apoio e serviços às empresas, saberá também assegurar a disponibilização das parcerias adequadas a cada um dos diferentes níveis e tipo de administração pública, apresentando ofertas racionais e competitivas que apoiem os esforços de redução da dimensão e orçamento públicos.

O CEC desde início que se propôs em trabalhar em rede, de forma a otimizar os recursos e as competências que existem em cada uma das suas Associadas. Trabalhar em rede pressupõe um grande entendimento e trabalhar em conjunto. Essa cultura de organização o CEC tem e é um dos seus pontos fortes.

P – Voltando às empresas, estamos condenados a apostar nas exportações?

R – Sim, mas não só… teremos de, colectivamente, alterar o paradigma económico para sairmos, de forma sustentada, da crise que atravessamos. É bem verdade que corremos o risco de, pela primeira vez em muitas décadas, ter uma balança comercial positiva, mas não nos podemos esquecer que essa alteração de perfil resulta mais da quebra do consumo e das importações e do abrandamento económico do que da procura por mercados internacionais como uma estratégia empresarial pensada. É preciso fazer mais! Sendo certo que nas exportações reside a base da solução, não nos podemos esquecer que, tradicionalmente, muito do que produzimos e exportamos incorpora importações. Há uma enorme oportunidade para a nossa economia, e no seu aproveitamento um contributo significativo para a inversão do nosso deficit. Contudo, para se avançar no processo de venda ao exterior e de internacionalização deveremos preparar as empresas. Desde logo, fazer crescer a dimensão média das nossas empresas, permitindo a sua internacionalização. É por isso desejável que se promovam iniciativas que favoreçam a cooperação entre as empresas e que ajudem o agrupamento de micro e pequenas empresas qualificando-as para serem fornecedoras das empresas exportadoras. Uma política de capacitação e qualificação de micro e pequenas empresas pode dar um contributo sensível para a nossa balança comercial e para a criação de emprego, ao promover o crescimento da economia nacional em substituição de mais importações. Agora que a indústria voltou ao nosso léxico, seria bom desenvolver uma “nova” cultura de promoção da indústria nacional, nomeadamente promovendo a densificação das relações internas, e fomentando a escolha por produção nacional quando competitivamente justificada. Na nossa opinião é necessário estimular práticas e fomentar o contágio… Definir um quadro estável em que o Estado recompensa quem contribui para o desenvolvimento de Portugal substituindo importações. Incentivar as grandes e médias empresas para a adoção de fornecedores nacionais. Incentivar os agentes económicos que invistam na produção de substituição de importações. Espalhemos pelos empresários espírito de parceria e recurso a fornecedores portugueses, e ganharão a nossa indústria e os nossos produtos. Desta nova cultura beneficiarão de imediato as micro empresas que constituem a esmagadora maioria da nossa base empresarial. Dela resultará mais produção nacional, maior valor acrescentado internamente e diminuição das importações.

P – Que desafios se colocam as empresas nos próximos anos. Que características devem reunir para singrar num mercado global e extremamente competitivo?

R – A única certeza estável que podemos hoje ter, é a certeza de que tudo vai mudar. Acima de tudo as empresas terão de estar preparadas para a incerteza, para as rápidas alterações do ambiente concorrencial, para a competição global em cada vez mais segmentos e para a crescente redução do ciclo de vida dos produtos. Ou seja, com tanta mudança, a aprendizagem tem de ser constante, o que implica uma aposta no conhecimento, na inovação e na criatividade. As empresas que apostarem na retenção de talento, de conhecimento, terão as armas para lutar, mas só as que estiverem dispostas a lutar internacionalmente o poderão fazer sustentadamente. Também não pode ser negligenciada quer a necessária robustez financeira porque, hoje, as empresas também têm que superar essa prova, e a dimensão adequada para enfrentar o desafio dos mercados.

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