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«Talvez daqui a cem anos os Pokemons sejam jogos tradicionais»

Guarda foi a capital dos jogos tradicionais no fim-de-semana com conferências, exposições e demonstrações

«Talvez daqui a cem anos os Pokemons sejam jogos tradicionais», ironizou o cientista Carvalho Rodrigues na sessão de abertura das quintas Jornadas Internacionais de Jogos realizadas na Guarda no final da semana passada.

O encontro que reuniu investigadores, dirigentes associativos e praticantes no TMG durante dois dias foi uma das várias atividades programadas pela Associação de Jogos Tradicionais da Guarda (AJTG) que transformaram a cidade mais alta na capital dos jogos tradicionais. Até domingo houve demonstrações e exibições de jogos oriundos dos quatro cantos de país e ainda de Espanha, França, Itália e Roménia, bem como exposições e um grande prémio de corrida de pneus. «Quisemos organizar estas Jornadas porque entendemos que há sempre formas de aprender e por isso convidámos gente de Espanha, França, Itália e Roménia para debater e partilhar soluções sobre como intervir na animação comunitárias com jogos tradicionais», disse o presidente da AJTG. Segundo Norberto Gonçalves, «há uma grande diversidade de jogos mas conseguimos encontrar pontos de contacto em jogos de regiões muito distintas, pelo que estamos todos a falar do mesmo, de formas lúdicas de matar o tempo».

O dirigente admitiu que a prática destas modalidades já conheceu melhores dias, tudo porque o poder político se desinteressou dos jogos tradicionais e por causa da desertificação das aldeias. «Essa menor participação também aconteceu em França e Espanha, onde a prática de jogos está a ser recuperada porque há um claro investimento das entidades públicas nacionais e regionais, sobretudo na escola», disse Norberto Gonçalves, para quem «há jogos a perder-se e outros que estão a aparecer». De resto, no domingo teve lugar uma demonstração do jogo da barra de ferro, que está praticamente extinto. «Era muitíssimo praticado na raia e jogado com um ferro dos pedreiros. Hoje, como há máquinas para levantar pedras, já não são necessários ferros e por isso este jogo que derivava do trabalho acaba por cair no esquecimento», exemplificou, adiantando que a AJTG fez, «a tempo e horas», um levantamento exaustivo da sua prática.

Sobre a comparação de Carvalho Rodrigues, o responsável recordou que os portugueses já tinham um Pokemon, os gambuzinos. «Era quase um ritual de crescimento, havia sempre um que era enganado, normalmente o citadino, que não sabia das coisas», declarou. Na Guarda continuam patentes até dia 14 as exposições “Brincadeiras ao Longo do Tempo” (Paço da Cultura), “Jogos Tradicionais na Azulejaria Portuguesa” e “Postais, Fotografias e Jogos da AJTG” (ambas na galeria de arte do TMG) e “Jogos Matemáticos através dos Tempos” (Instituto Português do Desporto e Juventude).

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