Haverá melhor maneira de dar a conhecer uma cidade a alguém (sem a mostrar) do que através de um poema? Se calhar até há. Mas nunca terá a mesma magnitude e densidade que “Loa ao Porto”, de António Manuel Couto Viana, na voz cavernosa de Adolfo Luxúria Canibal. É esta a faixa que abre OPO, o primeiro longa-duração de Stereoboy.
E é despindo-se de preconceitos que Luís Salgado e Sofia Arriscado nos convidam, na viagem, a ouvir o disco, através do belíssimo single (e vídeo) “Naked”. Um crescendo visual de instrumentação, numa pop electrónica com “synths” psicadélicos. «Let me in. My dress is naked /Let me in / I’m wearing my own skin». Gostamos logo.
O disco, composto por nove canções inspiradas em histórias que se passam na cidade do Porto, é, portanto, dedicado a ela. Mas pode ser dedicado a cada um de nós, se nos identificarmos com os monstros que assombram Luís Salgado. “Monsters Never Get Tired” tem um “riff” de guitarra bem marcado, ao qual se junta o baixo e o electro, e depois a voz suspirante de Sofia Arriscado dá-lhe o toque feminino, para que não tenhamos tanto medo.
A meio da viagem ouvimos os ruídos da “VCI” e imaginamo-nos numa cidade que não pára. Ainda que a doce voz de Sofia nos peça para não adormecer, provavelmente é o que acontece quando ouvimos “Empty Noise”, a faixa mais calma de todo o disco. Por oposição, o número dois de OPO, “Broken Glass”, fervilha de uma guitarra constante, onde também estão presentes elementos electrónicos e sons que ora crescem, ora decrescem, fazendo lembrar a broca de um dentista. E como o amor também cabe neste disco, entre a dor e o amor abre-se espaço a este último, que fecha o disco com “Deep Space Love”, com o contributo de Blac Koyote. “Golden Hair” deixa-nos a querer mais («They always want more», arrisca a voz feminina da dupla). Com uma entrada suave na batida e electrónica a lembrar Postal Service, após escutarmos o baixo, temos a certeza de que queremos mais. Fechamos a porta na faixa 8 (“My Door is Closed”) e prosseguimos viagem.
OPO já anda a circular desde Abril deste ano e concentra em si a parte da música orgânica, sem regras, em que Stereoboy mergulha, como nas mil águas daquele mês, mas, como foi produzido durante o Inverno de 2012, é denso e cinzento. Depois dos EPs “éme” e “Bubble Pop Core” e de uma digressão pelo país, o álbum de estreia de Stereoboy é um disco para ouvir em todo o lado, sem medos, seja na calmaria da aldeia ou no frenesim da cidade. Mas sempre celebrando a viagem da vida, tendo como inspiração a capital do Norte. Boas viagens.
Por: Fernanda Fernandes*
*Mestranda em Comunicação e Jornalismo na Universidade de Coimbra. Inicia nesta edição uma colaboração regular com O INTERIOR
**A autora optou por não escrever ao abrigo do novo acordo ortográfico