A frase não é minha, é de um amigo meu, desenganado, com alcunho de dia de semana, viajante, tropeção, é ele que o diz nas suas voltas e revoltas pelo Mundo: Sou português, fui enganado! Tentei perguntar-lhe um dia, porque também nasci neste jardim plantado à esquerda Ibérica, qual a ideia que sustentava o verdadeiro e monumental engano ou se seria apenas uma piada absurda, cósmica, fonética talvez. Não fui capaz! É daquelas frases que valem só por si, sem necessidade de serem dissecadas, pensava eu no século passado.
No entanto, a frase sempre me acompanhou e até cheguei a juntar-lhe outras ideias, como a de um cidadão, por sua recriação, tentar devolver a sua identificação ao Estado que a passou, recusando-a para sempre, desvinculando-se da pátria sem necessitar de trocar de operadora: Será isto possível? Entregar o BI como se entrega um cartão partidário! Haverá algum ‘estado offshore’ sem terra e em vigência.
Preocupado, hoje mais do que nunca, em saber quem é o ‘sacana’ que nos anda a tramar, ouvi dos meus botões uma curiosa estória sobre a palavra ‘sacana’ no Japão, que é usada para dizer peixe. Conta a lenda que em águas nipónicas um pescador português, ao perder o peixe do anzol, disse: Fugiu, o sacana! E então ficou ‘sacana’. Seria caso para uma promoção turística de Portugal no Japão – Venha ao país dos sacanas. Venha comê-los a Portugal! Ou simplesmente – Portugal, um país de sacanas!
Quando nasci, fizeram-me um contrato, tenho a prova na carteira e está plastificada. Não sei quanto pagaram os meus pais, mas tenho a ideia de que não fizeram grande negócio. Tempos depois fui também laureado pela diversidade do Mundo, como aquele português que foi pescar para o Japão! Fui viver Portugal de outro prisma, como se não fosse capaz de o entender cá dentro. Fui gostar da nação lá fora! Como quem pede um tempo, antes de se casar, para estudar a validade de um compromisso. Fui experimentar com outras!
Se o leitor não está já assustado, gostava de lançar aqui um tema inevitável de se ver discutido, juntamente com a regionalização, porque sempre me achei, antes de português, Ibérico e de Riba Côa. Se esta terra lusitana fosse a sexta nação, se espartilhada uma sétima ou oitava, de uma federação peninsular, a mim não me caía nada, nomeadamente a cultura. E não me venham dizer que é terrorismo de Estado, porque é precisamente o contrário! Quando um espanhol fala cada vez mais na sua região e evita usar a palavra Espanha, injectar 10 milhões e uma frente oceânica num fresco desígnio de nome Ibéria podia ser uma verdadeira ‘bomba’ de paz e desenvolvimento numa península que é, já, uma comunidade económica e um caldeirão de culturas afirmadas. No nosso caso, cada vez mais um grupo cultural sem Estado! Agora arranhem-se e pensem bem nisto!
Por: Daniel Gil